terça-feira, 12 de outubro de 2021

Não chore por mim Kosovo


Sai ao chegar, sem alarde, sem barulho, por meio de um breve comunicado à imprensa, como se anunciasse a lista de compras. Ela sai, mas não para muito longe, como quando um colega muda de emprego, mas continua na mesma empresa. O judô tem sido sua vida inteira, para o bem e para o mal. O ruim é a derrota e o bom é a coleção de títulos, a glória e saber que ela sempre estará lá. É um consolo, principalmente para os outros, porque é difícil imaginar um tatame sem Majlinda Kelmendi.

Majlinda Kelmendi

Haverá tempo para ela explicar se a decisão foi tomada antes ou depois das Olimpíadas de Tóquio. O tempo terá de sentar e conversar para rever uma jornada monumental, porque isso é exatamente o que Majlinda Kelmendi é. Eles fizeram dela uma estátua antes de ela completar trinta anos, porque ela é mais do que o símbolo do Kosovo. Majlinda Kelmendi é Kosovo. 

Ela é uma das poucas judocas que venceram tudo. No entanto, nem todos foram pioneiros como ela. Sua carreira e herança de medalhas cresceram como uma nação jovem, como se o destino de Kosovo dependesse das vitórias de Kelmendi. É mais do que um passaporte e uma bandeira exibida ao redor do mundo. Majlinda Kelmendi é aquele general que entra em um tatame com um país inteiro atrás dele. Ela é o prodígio do técnico Driton Kuka e uma fonte de inspiração para todas as mulheres do país. Ela é modelo, exemplo e parceira. O sucesso da equipe Kosovar é o legado de Majlinda, porque sem ela a história teria sido diferente. 


Agora ela deixa um vazio e aqui a realidade se choca com a nostalgia. É verdade que o Kosovo já mudou e que o presente e o futuro não geram preocupações porque Krasniqi e Gjakova estão no topo do mundo. Nostalgia? Porque Majlinda teve um reinado longo e fecundo, a resistência do pequeno contra o grande, o cemitério de Golias. 

Resta saber como ela se adapta à sua nova vida, se ela muda seus hábitos e qual será sua marca no judô kosovar que está por vir. Competir e treinar são coisas diferentes, mas saber que Majlinda estará muito perto, na cadeira do treinador ou nas arquibancadas, é reconfortante, sem dúvida para os seus compatriotas tanto quanto para nós. 

Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou da matéria? Deixe um comentário!
Aproveite e seja um membro deste grupo, siga-nos e acompanhe o judô diariamente!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Pesquisa personalizada