Em matéria publicada na Gazeta de Alagoas, o Ministro dos Esportes Aldo Rebelo tece sua opinião sobre o judô brasileiro.
Confira a matéria:
Nos Tatames do Mundo
O sucesso dos judocas do Brasil nos tatames do mundo suscita uma questão: por que essa arte marcial de origem japonesa prosperou em nosso país?
Como esporte olímpico nos rendeu 19 medalhas, inclusive uma de ouro em Londres em 2012 na categoria ligeiro, com Sara Meneses, bicampeã mundial júnior de 2008 e 2009. Acabamos de vencer o Grand Slam de Moscou, conquistando dez medalhas – três delas de ouro.
Se o futebol cedo deixou o campo restrito da aristocracia inglesa que aqui o introduziu, também o judô extravasou a colônia japonesa de São Paulo. Hoje, é cultuado nacionalmente e gera campeões, como no Piauí de Sara Meneses.
Não está entre os esportes mais praticados, reunindo talvez pouco mais de dois milhões de adeptos, mas foi capaz de atrair a sensibilidade do poeta Paulo Leminski, um faixa-preta que dizia ter aprendido no judô a “capacidade de não hesitar diante de uma intuição”.
Outras lutas orientais não vingaram no Brasil. A capoeira, praticada na Colônia e Império como luta-dança criada no Brasil por escravos bantos, foi estigmatizada como malandragem de senzala – e isso seguramente limitou sua aceitação nas camadas médias.
O judô universalizou-se: é ensinado em escolas particulares e até ginásios esportivos de prefeituras.
Como o futebol, tem sido uma escada de mobilidade social.
A maioria dos vencedores do Grand Slam de Moscou recebe a bolsa-atleta do Ministério do Esporte.
Rafaela da Silva, campeã mundial sub-20 e vice-campeã mundial em 2011, que agora levou o bronze na Rússia, e segue uma das grandes promessas brasileiras em seus 21 anos, era uma menina sem futuro na Cidade de Deus no Rio de Janeiro até vestir um quimono.
O campeão brasileiro de 2013 na faixa-marrom, Kainan Santos Pires, de 16 anos, vivia numa favela do Guarujá, em São Paulo.
Ainda é cedo para estabelecer a contribuição brasileira ao judô. A criatividade nacional, tão bem-sucedida no futebol, é limitada pelos golpes codificados.
Mas parece que, como o violento esporte bretão, a suave luta japonesa explodiu no Brasil por incorporar, tal como o sociólogo Gilberto Freyre observou do “futebol-mulato”, uma coreografia dionisíaca que distingue nossos atletas.
Por: Aldo Rebelo - Ministro dos Esportes