domingo, 13 de junho de 2021

Atletas albinos relatam os desafios de lidar desde cedo com o preconceito

#Acessibilidade: Luan usa quimono branco, que está levemente aberto e deixa o torso do atleta à mostra, e faixa preta. Ele tem o tom de pele bem claro e cabelos e barba loiros. Foto: Alexandre Schneider/ CPB.13/06/2021

Desordem genética normalmente associada apenas à cor da pele leva também a alterações da visão.

O albinismo é uma falha genética que impede ou reduz bastante a produção de melanina, pigmento que dá cor a pele, cabelos e olhos. O que muita gente não sabe é que a deficiência visual é uma característica comum a quem nasce com essa alteração. Por isso, como se não bastasse o preconceito estético com o qual lidam desde cedo, os albinos ainda enfrentam os desafios de viver em um mundo pouco acessível a quem tem baixa visão.

"Eu tinha em torno de 11, 12 anos, e estudava em uma escola convencional. Não sabia o que era albinismo, só tinha sempre de me sentar na frente, ficar bem pertinho do quadro para conseguir enxergar. Mas nessa época começou o bullying. Me chamavam de branquelo, Branca de Neve. Os comentários começaram a ficar piores. Foi quando não conseguia mais conviver socialmente na minha escola. Eu era aquele garoto que ficava lá na frente e não conversava com o resto da turma", conta o judoca Thiego Marques, de 22 anos.

"O meu subterfúgio foi o judô. Comecei a conversar com outras pessoas com deficiência visual que não me julgavam e me aceitavam. Até hoje, recebo comentários maldosos, apelidos, mas hoje levo para o lado do humor. Eu sei que sempre vão rir de mim, então, vou rir junto com eles", diz o paraense de Parauapebas.

#Acessibilidade: Thiego aplica o ippon no canadense Justin Karn durante o Parapan de Lima, em 2019. Thiego veste quimono azul, é branco de pele e tem o cabelo num tom amarelo bem claro. Foto: Alexandre Schneider/ CPB.

Humor e desprendimento são também as armas de Luan Pimentel, colega de Thiego na Seleção Brasileira de judô paralímpico, para lidar com o preconceito. "Uma coisa legal de ser albino é que, muitas vezes, você é confundido com estrangeiro, é bem engraçado isso, dá até para tirar uma onda (risos)", diz o atleta de 23 anos nascido em Camapuã (MS).

No caso de Luan, ajudou o fato de ele ter um irmão mais velho com a mesma mutação genética. "Minha família, que são as pessoas que sempre estiveram do meu lado, me fizeram entender desde cedo que essa questão do preconceito iria acontecer mesmo. Eles me deram um suporte muito grande e sempre disseram que eu deveria saber quem eu era, que eu não sou esse preconceito que chega até mim."

Na opinião dele, a curiosidade das outras crianças era até compreensível. Mas o que doía, mesmo, eram os comentários vindos dos adultos: "Uma coisa que me marcou bastante foi as pessoas não acreditarem que eu era filho dos meus pais. Diziam que era adotado. 'Ah, mas não tem como, não é possível você ser filho deles, que são pardos, morenos'. Isso me deixava até em dúvida, pois eu era criança e via adultos falando esse tipo de coisa".

A desinformação dos mais velhos também trouxe problemas para a então pequena Ana Gabriely Brito, hoje pivô da Seleção Brasileira de goalball. "Fui uma criança na década de 90, então, sofri muita resistência de escolas regulares para ser aceita por conta da dificuldade de enxergar no quadro, dificuldade com claridade. Tinha uma professora que implicava muito comigo, queria me excluir das atividades com outras crianças", conta a jogadora de 30 anos.

Os muitos apelidos recebidos na infância – leite azedo, quatro-olhos, entre outros – ajudaram, de certa forma, a moldar a casca de Gaby, que aprendeu a não levar desaforo para casa. "Sempre me defendi muito bem. Se me chamassem de alguma coisa, devolvida na lata. Já arrumei briga, mordi criança, arranquei pedaço (risos). Bullying nunca me diminuiu", diz a atleta natural de Brasília (DF).

#Acessibilidade: Gaby tem o tom de pele rosado e cabelos loiros. Ela veste camiseta azul da Seleção e está com os óculos de proteção de goalball, apoiando a mão esquerda sobre a trave da quadra. Foto: Alê Cabral/ CPB.

Data simbólica

Neste domingo (13) é celebrado o Dia Internacional de Conscientização Sobre o Albinismo, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) justamente para promover o debate a respeito do assunto e desmistificar velhos preconceitos.

No Brasil, não há um número preciso de pessoas nascidas com essa mutação genética. De acordo com dados divulgados pelo governo federal no fim de 2020, estima-se em 21 mil o número de albinos no país.

Para saber mais sobre o assunto, CLIQUE AQUI.


Por: Renan Cacioli - Comunicação CBDV


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