quarta-feira, 7 de abril de 2021

Portugal: Os katas são a gramática do judô


Quando falamos de judô o termo a ele intrinsecamente ligado é via ou caminho mas no caso que aqui abordamos teremos que sair dos carreiros e das vielas e utilizar a estrada. Já imaginaram um campeão nacional da modalidade nas categorias de juniores, seniores e absolutos a esticar o braço, de polegar levantado, para sinalizar aos camiões em circulação que uma boleia seria bem-vinda?

O Kerouac de Coimbra

Esta versão judoca do Pela Estrada Fora do Jack Kerouac aconteceu há uns bons anos atrás tendo tido por protagonista Pedro Gonçalves. O judoca referência dos katas em Portugal, por várias vezes na sua juventude pôs a mochila às costas e foi até a França para treinar com a seleção e os competidores franceses que naquela altura inspiravam os atletas europeus.

Hoje, seria difícil associar esta imagem de rebeldia, de paixão e de liberdade a um perito da União Europeia de Judô na área dos katas e a um 7º Dan com responsabilidades no desenvolvimento do judô de nível global. Mas acreditem que Pedro Gonçalves herdou dessa fase de intensas interações com atletas e clubes de todo o mundo uma vocação para combinar o rigor, a disciplina e a persistência com a flexibilidade, a agilidade e o sentido livre e aberto na ocupação do espaço, atributos exigíveis e essenciais na prática dos katas.

Recentemente a dupla que integra com Paulo Moreira classificou-se em 2° lugar na competição online de Katas organizado pela União Europeia de Judô no kata Kodokan Goshin Jutsu, prestigiando mais uma vez o judô nacional. Foi este o ponto de partida para uma conversa que tivemos com o treinador da Escola de Judô de Coimbra que aproveitou para apelar a uma maior divulgação desta vertente do judô que ainda não adquiriu, aos olhos de muitos dirigentes e treinadores, a importância que lhe é devida.

Katas e exames de graduação

“Criou-se a ideia errada que os katas são para chatear quem quer passar os exames de graduação. No fundo a adoção de uma visão que desvaloriza uma área que é muito importante para o judô. Importa ainda afirmar que muitos dos intervenientes da modalidade não conhecem o significado dos katas. Muitos praticantes afirmam não gostar, mas é difícil gostar de algo que se desconhece” estas foram as primeiras observações de Pedro Gonçalves que avalia a situação dos katas no judô nacional como uma área que precisa progredir.

Gonçalves revela um olhar não apenas técnico sobre o tema. A sua abordagem é também de natureza cultural “Os katas existem desde que o judô foi criado e não são uma coisa só do judô. São próprias de todas as artes marciais e significam modelo ou forma. Abe dizia que são a gramática do Judô. São padrões pré-estabelecidos dos aspetos técnicos e culturais do judô. Também existem na sociedade japonesa noutros campos, na arquitetura, na cultura, na arte, no teatro e nas empresas. São como um Manuel de Procedimentos”.


O nosso interlocutor insiste numa relação que surge como essencial, a ligação entre katas e a aprendizagem do judô “Os katas permitem aprender e ensinar as bases. Estas não podem ser aprofundadas de forma sistemática quando se treina para a competição. A forma de fazer a saudação, de por o judogi,  de fazer as pegadas, de realizar os deslocamentos e os desequilíbrios e ainda de cuidar da postura são aspectos culturais e técnicos. Mas claro ninguém vai treinar katas para ir aos Jogos Olímpicos”.

Os aspetos culturais tornam-se muito importantes porque tornam o judô uma modalidade única. Enriquecem o próprio judô que é uma modalidade educativa. Estes aspetos culturais são por isso muito importantes.

Em termos de perspectivas futuras Pedro Gonçalves defende que a dinamização dos katas, como atividade paralela e complementar da modalidade, podem trazer muita gente para o judô. “Queremos que o judô tenha muitos praticantes e devemos abraçar estas possibilidades para atrair novos judocas” reforça o treinador de Coimbra.

Gonçalves, conhecedor desta vertente do judô de nível nacional, europeu e internacional recomenda “A competição de katas é relativamente recente já que foi apenas há 20 anos que teve início. O que é certo é que permite conhecer melhor o judô, sem as limitações da idade e facilita uma evolução técnica ao mesmo tempo que oferece um quadro competitivo muito desafiador, nomeadamente através da participação em Campeonatos do Mundo, da Europa e em estágios. Os dados estatísticos do judô indicam que apenas 10% dos praticantes estão envolvidos em competições. O que podem e devem fazer os restantes 90% está à vista. Não têm que ser sacos de treino para os outros e podem ter uma atividade cativante, sem lesões. As competições de katas podem alargar as atividades competitivas a um número muito maior de judocas”.

Há uma grande preocupação em relação ao número de praticantes e para enfrentar essa realidade pode-se pensar em novos judocas mas também em manter aqueles que já praticam. Neste plano Pedro Gonçalves aconselha a que se analise com rigor as motivações das pessoas adultas nos nossos tempos. Como ele acaba por recordar “A nossa sociedade mudou muito. Quando comecei a praticar judô, há quase 50 anos, era normal os miúdos brigarem na rua. Mas hoje em dia nós encontramos muito jovens adultos que estão pouco receptivos a praticar uma modalidade tão exigente no plano competitivo. Há quem não goste, que não queira sair dos treinos todo “partido”. E é preciso atender a esse estado de espírito”.

Num plano mais institucional o perito da UEJ vai mais longe “Os japoneses defendem que os katas devem fazer parte dos Jogos Olímpicos. Neste momento já fazem parte do programa olímpica do karatê. É uma assunto a pensar e a tratar.”

Antes de terminar pedimos a opinião a Pedro Gonçalves sobre os Campeonatos da Europa de judô que se realizam em meados de abril no Altice-Arena em Lisboa e este afirmou “É muito bom para Portugal. Pena é que estejam a ser realizados nesta situação de pandemia e espero que os atletas portugueses tenham bons resultados. Seria também uma forma de valorizar Coimbra, a minha cidade, onde têm estado a treinar sistematicamente”.

No final em tom de conclusão exprimiu um desejo e uma esperança “Espero que venha a ser possível organizar um Campeonato da Europa de katas  em Portugal. Este ano ainda teremos o Campeonato da Europa e do Mundo, mas irão ter lugar em outros países”.

Prova europeia recente

Pedro Gonçalves e Paulo Moreira classificaram-se em 2° lugar na competição online de Katas organizado pela União Europeia de Judô, no Kata Kodokan Goshin Jutsu.

O que é o Kodokan-Goshin-Jutsu?
Formas de Defesa Pessoal da Escola Kodokan


Foi notícia

Pedro Gonçalves e Paulo Moreira sagram-se Campeões da Europa
Julho 22, 2019 | FPJ

Pedro Gonçalves e Paulo Moreira venceram este sábado o Campeonato da Europa de Katas, prova realizada nas Ilhas Canárias em Espanha. Foi a primeira vez que o hino de Portugal foi ouvido num europeu da especialidade, os dois atletas já por diversas vezes tinham estado muito próximo do 1.º lugar no pódio num campeonato de nível europeu (onde já obtevam nove medalhas), pelo que esta classificação teve um significado muito especial para o judo nacional.

Pedro Gonçalves nomeado como EJU Kata Expert

A Federação Portuguesa de Judo tem a honra de informar que o judoca Pedro Gonçalves, licença Federativa 20429, 7º Dan da Escola Judo de Coimbra foi nomeado pela União Europeia de Judo como “EJU Kata Expert”.

Pedro Gonçalves conta com um vasto currículo desportivo. Em competições internacionais  de katas conta com os seguintes destaques:

Katas

Vice-Campeão da Europa,
4º lugar no Campeonato do Mundo,
8 vezes medalhado em Campeonatos da Europa de Katas,
1º Lugar em 4 Torneios Europeus de nível A.

Em competições de Shiai

Campeão Nacional de Juniores,
Campeão Nacional de Seniores,
Campeão Nacional Absoluto (3 vezes),
1º Lugar na Taça K. Kobayashi (5 vezes)

Pedro Gonçalves conta com o Titulo de Jukutatsu atribuído pelo Instituto Kodokan (Tóquio), correspondente a nível excecional na execução do kata Kodokan-Goshin-Jutsu. Foi Presidente da Associação Distrital de Judô de Coimbra – 12 anos – e membro da Comissão Nacional de Graduações da Federação Portuguesa de Judô.

Por: Judo Magazine - Portugal

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