sábado, 17 de abril de 2021

Vinícius Erchov: Manifesto para e pelo Judô de São Paulo


Antes de me formar na Universidade me formei no Judô. Estou no meio desta apaixonante modalidade desde os 7 anos, e muito do que construí de caráter e visão de mundo vem dessa arte marcial japonesa.

Depois de 20 anos de USP, algumas graduações, muitos cursos e especializações, continuou sendo o Judô o principal motor da minha vida. Mas a paixão pela leitura, letras e conhecimento em geral vão absolutamente ao encontro com os preceitos básicos do Judô e o exemplo de seu fundador, Jigoro Kano.

Vivo de Judô há mais de duas décadas por uma clara e consciente escolha por prazer, amor e possibilidade de transformar a vida de tanta gente e da sociedade por consequência, objetivo final deste caminho suave. Não interessando neste texto discorrer sobre conquistas (individuais e coletivas), amizades, graduação, derrotas, vitórias, frustrações, quedas ou superações; isso se faz menor neste texto.

Há muitos anos venho questionando práticas condenáveis (em diversos pontos de vista) e direcionamento (ou falta dele) da gestão político-institucional da FPJ (comandada por um grupo que lá se estabeleceu há praticamente 30 anos), e isso foi um “ultraje” à obsoleta direção da entidade. Daqui partimos.

A FPJudô estagnou. Refletindo muito a visão turva e desfocada do mundo, da sociedade, da política e da modalidade, aquilo que era tido como “vanguarda” em meio às outras federações e até comparativamente com a confederação, paulatinamente murchou. Preso em um passado longínquo, a entidade se manteve adotando práticas absolutamente descoladas da realidade suscitando, deste modo, diversas conjecturas de mal-uso do dinheiro, de indicações e cargos por troca de favor, de permanência espúria no poder, etc. Sinais claros do pior que assistimos no sistema político do país. E se engana muito quem acha que o judô institucional paulista está alheio a isso. Não! Ele se sustenta por isso. E aqui temos uma inflexão.

Usando a modalidade judô como “escudo”, trazendo todas as benesses dela à tona, essa gestão (e seus agentes) se blindou de toda e qualquer prática ruim (imoral ou ilegal) jogando com o mais precioso que temos no judô - sua pureza ideal – freando, assim, qualquer ato ou discurso de alguém contrário à nefasta prática política estabelecida por essa gestão. Não mais!

Não é mais possível a comunidade não ter acesso claro e irrestrito aos números e às finanças de uma entidade que existe justamente pelo valor pago por associados e associações. 

Não é mais possível aceitarmos “eleições” onde uma pessoa pode votar em nome de 30, 40 outras por meio de procurações e com uma comissão eleitoral formada por coordenadores da própria entidade. Não é mais possível não termos um planejamento estratégico nos diversos campos de atuação da entidade com o objetivo de franco e claro crescimento da mesma e das associações/clubes. Não é mais possível aceitarmos que agentes que respondem (hoje ilegalmente) pela entidade pague (com o nosso dinheiro, inclusive) à outra (com claros transtornos mentais) para produzir matérias e textos difamatórios, ofensivos, vis e mentirosos. 

Não é mais possível aceitarmos que animadores de auditório e asseclas, que por vezes se travestem de jornalistas, tomem para si o discurso da “filosofia do judô” destilando desatinos sem ter a menor ideia do que falam, servindo – pasmem – como a voz oficial da entidade. Não é mais possível admitir que uma entidade que deveria ser exemplo não saiba lidar com o contraditório, com outras opiniões; com a democracia. Não é mais possível! E a culpa é nossa!

A culpa é nossa que aceitamos que tudo seja pago só em dinheiro e sem nenhum tipo de nota fiscal; a culpa é nossa que assistimos colegas sendo coagidos e intimidados por expressar uma opinião diferente e não sair em sua defesa; a culpa é nossa de presenciarmos “professores” chamando crianças de 8, 9 anos de “atletas” em eventos, cobrando resultado competitivo e ficarmos passivos; a culpa é nossa de por ventura aceitar um favor, se corromper e promover o corruptor em um sistema repugnante de “toma lá dá cá”; a culpa é nossa de abrir mão da boa política, de se envolver diretamente e tentar ajustar o rumo da modalidade por uma tola ideia de que isso “mancha o judô”.

O que “mancha o judô” é a omissão! É a hipocrisia; a incoerência; a falta de empatia; a corrupção; a falta de transparência.

Cabe a nós olharmos para aquele nó do “obi” (da branca à vermelha) e fazer valer o seu significado; perseverar.

Cabe a nós estarmos de judogi principalmente sem vesti-lo; ter honra.

Cabe a nós termos sempre a atitude após o “hajime”; coragem.

Cabe a nós usarmos na prática a técnica do “ukemi”: tentar, cair, levantar e aprender; viver.


É preciso renovar o Judô. O movimento não é meu. É algo represado há tantos e tantos anos no âmago de cada um que entende, vive e ama essa modalidade. Sem clichês, sem frases feitas, sem apelação. Mas com propostas, respeito, transparência, dignidade e atitude.

Sou RenovaJudô, e faço parte da mudança!

Por: Vinícius Erchov, um judoca.


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