segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Mogi das Cruzes: Sensei Kimura deixa um legado para o judô mogiano


Uma matéria publicada em dezembro de 2019 pelo Portal News, do grupo Mogi News, nos chamou a atenção e nos motivou a replicá-la aqui no boletim OSOTOGARI.

Aos 13 anos, após uma viagem de navio que durou mais de dois meses, o japonês Yokichi Kimura desembarcou em terras brasileiras. Se estabilizou na região de Paraguaçu Paulista, no interior do Estado e, lá mesmo, começou a trabalhar na roça. "Meu avô sempre nos contou que quando ele tinha uns 17 anos suas mãos eram repletas de feridas e por conta disso ele quase não conseguia lavá-las. Eu jamais esqueci isso", contou o neto. 

Em 1957, o progenitor, já casado e com quatro filhos - uma das crianças era a mãe de Yoshio - trocou o interior paulista pela cidade de Mogi das Cruzes. "Meu avô já praticava judô no Japão e deu continuidade quando morava no interior. Aliás, lá, a comunidade japonesa praticava judô, beisebol e atletismo. Em Mogi, meu avô montou uma academia na Escola Washington Luiz", explicou.

No entanto, Kimura queria colocar em prática a sua ideologia e, neste caso, com um grupo de amigos, acabou fundando o Judô Clube de Mogi das Cruzes que, no ano que vem  completará 48 anos de vida. "O primeiro endereço do Judô Clube era a rua Flaviano de Melo, bem no centro. Passamos por outros endereços e hoje estamos na região do Alto do Ipiranga", detalhou.

Um dos braços direito do sensei durante todos estes anos foi um homem chamado Yoshiyuki Shimotsu, uma espécie de 'pupilo' do fundador do clube. "Ele é uma das pilastras do Judô Clube. É graças a ele que o clube perdura por todo este tempo. Mesmo na ausência do meu avô, foi o Yoshiyuki que sempre nos orientou, dando os puxões de orelha necessários e nos encaminhando, tanto dentro dos tatames como na vida", explicou Kimura neto.

Em 2010, em razão de um aneurisma no intestino, o avô de Yoshio faleceu deixando um legado não só para o judô mogiano, mas para a vida de muitos atletas que receberam a formação baseada na ideologia de vida do sensei. "Meu avô morreu dormindo. Era a madrugada de uma segunda-feira. Tudo o que eu sei foi ele que ensinou, inclusive ter fé. Eu sou católico. A minha família tem parte budista e minha irmã é evangélica, mas independentemente de tudo isso, como meu avô me ensinou, o importante é jamais perder a fé", finalizou.

A derrota de hoje no esporte é a semente da vitória do amanhã

A ideologia do avô de Yoshio, o sensei Kimura, que utiliza o judô como uma ferramenta para ensinar valores de vida e, com isso, formar cidadãos de bem, é a coluna vertebral do Judô Clube de Mogi das Cruzes. O neto, sempre atento aos ensinamentos de seu mestre, além de levar consigo, transmite a doutrina aos seus atletas em forma de bate-papo e, principalmente, aplicando dois treinamentos específicos, conhecidos como Shotyugueiko (treino de verão) e Kangueiko (treino de inverno).

"Tudo começou quando eu estava com um grupo de atletas e boa parte deles tinha o objetivo de alcançar a seleção brasileira. Só que eu percebi que esta juventude não tinha ainda algumas vivências que eram necessárias. Por exemplo, no Japão é normal o aluno limpar o tatame, lavar o banheiro... E hoje, aqui no Brasil, jovens têm empregadas ou, por outro lado, os pais acabam fazendo estas tarefas", explicou o judoca.

Diante disso, há 8 anos, o mogiano desenvolveu um treinamento específico em um sítio de sua família. Durante oito dias, de sábado a sábado, os atletas ficam confinados em um acampamento na área rural e são obrigados a realizar tarefas específicas. "Este acampamento tem o objetivo de, num primeiro momento, fazer com que todos se respeitem com as suas diferenças, ou seja, cada um com o seu modelo de mundo. Outra coisa, viver sem celular: quando chegam é a primeira coisa que eles nos entregam. Só usam no almoço e no jantar para se comunicar com os pais. Lá eles têm acesso a brincadeiras que nunca haviam visto, como dins, taco... Os alunos são divididos em equipes. Tem que se respeitar as hierarquias, pois existem os líderes. As tarefas são divididas e tem as gincanas com prêmios", explicou o judoca.

Yoshio transmite aos seus alunos a importância de uma derrota, por exemplo. "Os jovens de hoje não estão preparados para frustrações. Eles não estão preparados para receber os 'nãos' da vida. A gente os prepara e começa a mudar isso. Não se chega à vitória sem antes passar pela derrota. Aliás, existe uma frase que eu carrego comigo: 'a derrota de hoje é a semente da vitória de amanhã".

Além de servir para a formação dos atletas, o treinamento no acampamento também acaba sendo benéfico para os pais dos judocas "Criamos esta modalidade também para que os filhos e os pais se acostumassem a ficar longe dos filhos. Atleta de alto rendimento tem de viajar e precisa deste desprendimento. Às vezes são viagens para fora do Brasil. Então este curso funciona demais. Acontece em janeiro e julho. E a novidade é que este ano teremos a participação de atletas do Clube Paineiras. Serão seis atletas. Tudo isso faz parte do projeto do meu avô de formar cidadãos", finalizou. 

Por: Douglas Pires - Portal News - Mogi das Cruzes


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