quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sarah relutou, mas teve ajuda da psicologia rumo ao ouro


Quando Sarah Menezes derrotou a romena Alina Dumitru e conquistou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres, muita gente se sentiu parte - por menor que tenha sido - dessa vitória. Família, amigos, médicos, fisioterapeutas, comissão técnica, entre muitos outros profissionais. Mas um em especial pode ter feito a diferença: a psicóloga Luciana Castelo Branco. No esporte de alto rendimento, onde os principais atletas alcançam níveis técnicos, táticos e físicos quase idênticos, o controle mental passa a ser uma arma poderosa nos momentos decisivos.

Formada em Psicologia no Piauí e com especialização em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciana fazia mestrado de Ciência Aplicada à Atividade Física e ao Esporte, na Faculdade de Medicina de Córdoba, na Espanha, quando conheceu Sarah e Expedito Falcão. Em seu estudo, "Efeitos do treinamento psicológico em atletas de judô de alto rendimento", encontrou em Sarah um bom exemplo. Abordada em 2009 pelo técnico, que pedia ajuda com a pupila, Luciana aceitou o desafio, mas confessa que não foi nada fácil no início.

- A psicologia ainda é muito mal interpretada de uma forma geral, pensam que é para doido. Com a Sarah, no começo, ela poderia se perguntar, por que eu tenho que ir ao psicólogo? Eu via que ela era dura na queda. Teve um pouco de resistência. Mas com a ajuda do Expedito e da CBJ ficou mais fácil, todo mundo foi incentivando e mostrando para ela que isso faz parte do desenvolvimento de um atleta olímpico - disse Luciana, que ressalta a importância do trabalho conjunto com toda a equipe técnica para que o resultado apareça.

Trabalho duro e eficiente

E os resultados começaram a surgir. Dois títulos mundiais sub-20 (2008 e 2009), duas vezes medalha de bronze em mundias adulto (2010 e 2011) e, por fim, o inédito ouro olímpico para uma judoca brasileira. Mas nem sempre foi assim. A mãe de Sarah, dona Olindina, recorda que a filha não aceitava as derrotas e ressalta a transformação depois da parceria com a psicóloga.

- Ela só sabia ganhar. Quando ganhava o bronze, ela escondia as medalhas, tirava do peito. A Sarah achava que não podia perder nada. Tinha que ganhar tudo. Eu disse para ela que a vida não é só ganhar. Mas foi só depois que começou a ir na psicóloga que ela aprendeu, mudou o discurso. O trabalho da Luciana foi fundamental nessa mudança. Só aí a Sarah começou a aceitar melhor as derrotas. Antes, ela chorava muito, mas não mostrava isso aqui em casa. Nunca vi ela chorando. Ela ainda esconde muito o sentimento - contou a mãe.

O nível de ansiedade era um dos principais problemas da judoca. Em busca do autocontrole emocional, Sarah começou a ir ao consultório de Luciana uma vez por semana - isso quando não estava fora para competir. A psicóloga, então, passava exercícios específicos para a atleta praticar durante as viagens e sempre conversava com atletas e integrantes da comissão técnica da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) para tentar entender melhor as reações emocionais de Sarah.

Uma das aliadas de Luciana foi a psicóloga da CBJ, Adriana Lacerda. A profissional lembra que sem a ajuda da colega, que repassou dados e monitorou a atleta quando ela não estava por perto, o trabalho teria sido muito mais difícil. Em março deste ano, Luciana foi convidada a integrar a equipe da CBJ. Em junho, esteve no Rio de Janeiro para acompanhar os últimos treinamentos da seleção brasileira de judô no Brasil, antes do embarque para Londres.

Após três anos de trabalho, o sentimento de dever cumprido veio coroado com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Na volta da judoca a Teresina, todos os profissionais que trabalharam com ela foram homenageados com uma placa no palácio do governo do estado. Segundo Luciana, o intuito é fazer com que o atleta consiga por si só manter o controle emocional em situações adversas, sem depender do psicólogo. E vai além, que ele utilize a mente em seu favor, nunca contra. E foi isso que a piauiense de 22 anos conseguiu colocar em prática nas Olimpíadas 2012, garantindo a satisfação de Luciana.

- Me sinto parte dessa conquista por conta da percepção da Sarah. Eu vi isso no discurso e nas mudanças de comportamento dela. Muitas vezes o atleta não percebe as mudanças feitas pela preparação psicológica, mas vejo que a Sarah percebeu. Se você comparar com o Expedito, que está com ela desde os 9 anos, é claro que a minha parte é muito pequena. Como psicológa, fiquei muito feliz e sei que ela entendeu o meu trabalho. Ela absorveu tudo o que eu queria passar a ela - comemorou.

Agora, o trabalho não pode parar. A meta olímpica foi alcançada, e a psicóloga estudará com a comissão técnica quais os próximos passos da atleta. Sarah, que no início tinha vergonha de dizer que ia ao psicólogo, precisará do auxílio da profissional mais do que nunca, garante dona Olindina. 

- Acho que a psicóloga vai ser mais importante agora, para ela se manter, ficar com os pés no chão depois dessa conquista. A responsabilidade passa a ser muito grande - admitiu a mãe da campeã olímpica.

Por:  Raphael Andriolo - GloboEsporte.com

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