sexta-feira, 13 de novembro de 2020

FIJ: The Golden Girls


Cuidamos porque é a terra de Maradona, berço do tango e dos assados ​​prodigiosos. Além disso, temos que fazer a entrevista por telefone por causa do maldito vírus e não sabemos bem o que vamos encontrar. Temos um encontro com Stella, Rosa e Norma. Estamos prestes a descobrir que eles são a versão argentina e melhorada de 'The Golden Girls'. Eles são pontuais, engraçados e têm uma vontade capaz de derreter o Perito Moreno.

A Argentina é um país culto, provavelmente o mais europeu da América do Sul. É também uma potência esportiva. Embora hoje seja uma nação orgulhosa do título olímpico conquistado por Paula Pareto em 2016, há quarenta anos as coisas eram diferentes e o orgulho nacional corria em outras direções.

“Éramos malucos”, diz Rosa. Ela é a mais velha dos três. “O judô não era muito difundido, muito menos entre as mulheres.”

Eles vão direto ao ponto e respondem sem rodeios. “No começo eu o considerei uma ferramenta indispensável para aprender a me defender”, explica Norma. "Então se transformou em paixão."

A paixão de uma vida, o método saudável de enfrentar as complexidades da vida de uma adolescente, o peso, a aparência, o olhar dos outros. O judô foi uma terapia total para seguir em frente com um corpo saudável e uma mente forte.

“Foi uma descoberta”, diz Stella, “porque nunca mais tivemos medo ou vergonha e a praticamos sem abrir mão de nossa condição feminina”.

Rosa cuidou de Stella. Eles estão separados por seis anos e, no esporte, seis anos é um mundo de distância, ainda mais quando um evento especial está aparecendo no horizonte. A palavra histórico é muito usada, muitas vezes sem significado ou hierarquia de coisas anódinas. Porém, um primeiro campeonato mundial feminino em um contexto de mudança sociológica, em um momento em que as mulheres reivindicam seus direitos e status, merece, sem dúvida, o rótulo de ser histórico.

No entanto, no esporte como em qualquer outro lugar, existem categorias. A seleção argentina de 1980 era composta por sete atletas, muito entusiasmo e nenhuma ajuda. “Como não tínhamos recursos, tínhamos que pagar a viagem, as passagens, a alimentação, tudo”, diz Rosa. Tem mérito e isso é importante para quem quer entender o que significa a paixão pelo judô e os valores inerentes a essa disciplina, principalmente quando há escassez de material.

Essas jovens, algumas adolescentes, queriam ser protagonistas e testemunhas. Como a Argentina não estava exatamente do lado dos Estados Unidos e havia falta de orçamento, já podemos traçar um retrato da força moral desses pioneiros.

Assim, eles chegaram a Nova York e enfrentaram o desconhecido. Rosa, na categoria -52kg, perdeu as duas lutas. Stella, com 68kg, aconteceu a mesma coisa. "Eles eram mais pesados, mais fortes."

Norma colocou a fasquia muito alta porque ela tinha quinze anos. Ela não podia votar, dirigir ou beber álcool naquela época, mas ela podia lutar contra os melhores do mundo. E assim ela lutou, com coragem, com aquela determinação típica argentina. Falando de história, Norma disputou a medalha de bronze e acabou sendo a judoca latino-americana mais bem colocada. Ela nos conta tudo isso com grande satisfação, mas sem arrogância. Tem uma diferença, é o que o judô 

É difícil imaginar o turbilhão de sensações vividas em apenas alguns dias. Uma primeira viagem a Nova York, um primeiro campeonato mundial, uma guerra para obter o reconhecimento dos setores mais conservadores e tudo isso sendo muito jovem, ou seja, com quase nenhuma amplitude de experiência de vida.

“O judô nos deu segurança e humildade”, diz Rosa. “Lealdade e respeito”, acrescenta Norma. “Paixão e convivência”, conclui Stella.

Norma se aposentou em 1987. "Antes de me aposentar, me vinguei no campeonato mundial de 1983 contra a francesa que me derrotou em Nova York." Porque, por que negar, Nova York foi um acontecimento precioso por sua carga simbólica, mas, no plano esportivo, deixou contas pendentes.

De volta a Buenos Aires, Stella mudou-se cento e vinte quilômetros de seu dojo. Lá ela se casou, teve dois filhos e fundou um novo lar. Ela trabalha como comerciante e se afastou do judô, mas diz que sente muita falta. Com um sorriso malicioso, ela acrescenta: "embora meu filho tenha começado a fazer judô porque queria se conectar comigo e me conhecer melhor".

Quanto a Rosa, ela continuou praticando e ensinando em diversos lugares até engravidar. Ela teve que abrir mão da prática, mas não da teoria porque ela tem muitos amigos em todo o mundo, muitos deles judocas.

São três flores, Rosa González Feilberg, Stella Maris Bicchieri e Norma Casco; três forças da natureza. Vê-los e falar, mesmo através de uma tela, tão risonhos, tão orgulhosos de suas jornadas e tão gentis e educados, nos faz entender que eles respiram judô por todos os poros e vivem suas vidas a partir de valores forjados quando eram jovens e tudo era adversidade. Neste ponto, supomos que a vontade dessas garotas de ouro já derreteu completamente o Perito Moreno.

Por: Pedro Lasuen  - Federação Internacional de Judô

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