quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Categoria nova é pra tentar Tóquio e também Paris, diz Jéssica


Um belo dia Jéssica Pereira recebeu uma proposta para mudar de categoria no judô. Subir uma, da até 52 kg para a até 57 kg. O motivo inicial foi corrigir um desvio de rota imposto à seleção brasileira pensando nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas o desafio veio pra ficar, tanto que ela não apenas aceitou, mas também já se vê no novo peso nos ciclos olímpicos seguintes.

“Não foi planejado. O Ney (Wilson, Gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira Judô) veio com essa proposta de eu lutar uma categoria acima. É um desafio, uma categoria que eu nunca lutei, não conheço as adversárias, mas aceitei”, explica a judoca, que tinha uma carreira consistente nos 52 kg até ter de se afastar devido a uma suspensão por doping.

Pois foi outro caso de suspensão por doping que influenciou a mudança. “A Rafaela teve de parar e estavam precisando de alguém para estar na categoria e conseguir ir pras Olimpíadas. E pensaram em mim”, detalha Jéssica Pereira.

Rafaela, claro, é Rafaela Silva, a “dona” da categoria até 57 kg no Brasil. Apesar de dispensar apresentações, vale reforçar que ela é atual campeã olímpica, foi a primeira brasileira campeã mundial de judô, em 2013, e está entre as melhores do mundo já há algum tempo. Obviamente é uma das esperanças de medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Porém, Rafa foi pega em um exame anti-doping em meados do ano passado e está suspensa por dois anos. Hoje está fora da Olimpíada e última chance é o julgamento de um recurso na CAS (Corte Arbitral do Esporte). A atleta já apresentou os argumentos de defesa e falta apenas saber a sentença.

Paris e Los Angeles

Se a decisão “ajudar”, a vaga em Tóquio já é da Rafaela Silva, mas Jéssica não parece disposta a voltar atrás se isso acontecer. Quando questionada sobre quantos ciclos olímpicos ainda pretende fazer, não consegue dar muita certeza, vislumbra Paris-2024 e talvez Los Angeles-2028. Só deixa claro que será nos 57 kg.

“Eu não sei, ainda tenho que ver isso (ciclos olímpicos). Pelo menos mais um, mas acho que dá dois. Por isso é bom eu já ter começado na categoria nova porque é a categoria que eu vou tentar nos próximos ciclos”.

É bom salientar que a categoria que ela deixou, dos 52 kg, é hoje dominada no judô do país pela jovem Larissa Pimenta, que tá com a mão na vaga olímpica. Isso influenciou na decisão?

“Não sei, acho que tudo influencia. Ela já tava bem no ranking, o sensei veio com essa proposta. Tinha muita coisa a se pensar. E foi uma decisão tomada em acordo, não foi só minha. Eu entrei em acordo com o sensei, com todos. E eu achei que seria a melhor opção.”

Antes, tem Tóquio

Antes de Paris e Los Angeles, claro, tem Tóquio. E não basta a vaga de Rafa “sobrar”. Não é uma herança. Jéssica Pereira precisa também escalar o ranking mundial, que é a base para a distribuição das vagas olímpicas.

Ela é a 82ª colocada com 282 pontos. A linha de classificação flutua hoje um pouco acima dos 2 mil pontos. Missão impossível? “Eu acho que não. Se voltarem as competições, eu tô preparada. E se eu for bem, começo a subir no ranking então eu acredito que dá”, diz. “É bem alcançável. Em três competições, quatro, dá para alcançar”, avalia.

A falta de competições, diga-se, é um problema a mais. O circuito internacional ficou parado por sete meses e ainda não voltou com muita firmeza. Em outubro foi realizado o Grand Slam de Budapeste, marcando a retomada, mas o de Tóquio, que chegou a ser agendado, não vai ocorrer. Cogitou-se uma troca por Zagreb, também descartada.

A rigor, o único campeonato agendado, e ainda assim carente de confirmação irrestrita, é o Masters de Doha, em janeiro. Porém reúne apenas os atletas mais bem ranqueados – os 36, a princípio – e Jéssica Pereira deve ficar de fora.

Pontos no México

Se o calendário mundial da FIJ (Federação Internacional de Judô) está encerrado esse ano, o continental ainda reserva competição. E com uma boa pontuação. É o Campeonato Pan-Americano do México, de 19 a 22 de novembro, valendo 700 pontos aos campeões.

“Eu tenho que chegar na final agora do Pan-Americano, que soma bastante ponto”, projeta Jéssica Pereira. A judoca participou de um campo de treinamento específico para o torneio com a seleção brasileira na cidade de Pindamonhangaba, em São Paulo.

“Estou muito bem preparada. Já fiz competições esse ano, em Portugal e na Hungria, onde eu acho que tive uma grande evolução. Subi muito aqui nesse período de treinamento, estudando as adversárias. E estou com muita vontade. Estou querendo muito esse resultado e vou fazer de tudo pra conseguir”, fala, com confiança, sobre os planos para Guadalajara.

O trabalho no México ficou menos complicado após a seleção do Canadá confirmar que não levará as melhores atletas na categoria, as duas líderes do ranking mundial: Jessica Kimklait e Christa Deguchi. Mas há ainda a experiente panamenha Miryam Roper, número 22 do mundo, a jovem dominicana Ana Rosa, 59ª, e a também brasileira Ketelyn Nascimento, a 40ª.

E o judô?

Decisão sobre o futuro da Rafaela, agendamento de competições são temas fundamentais, mas nada disso depende de Jéssica Pereira. A parte dela é treinar para se adaptar à nova categoria. Treinar e estudar.

“A adaptação é gradativa. Na categoria anterior, eu já conhecia as adversárias, já sabia como que tinha que entrar na luta. O meu maior desafio é esse. Eu tenho de fazer muito estudo de luta e competir, né? Pegar no quimono delas pra eu saber qual estratégia usar com cada uma. Esse é o maior desafio”.

Alguma diferença muito grande em relação aos 52 kg? “Talvez eu conseguisse fazer uma pegada melhor na cateogira anterior, mas eu não senti muita diferença. É mais conhecer a categoria, as adversárias. É fundamental na luta chegar lá e saber o que ela faz. É isso que é o pior”.

Jéssica já fez três competições nos 57 kg. Uma, a primeira, foi ainda antes da paralisação pela pandemia, o Grand Slam de Paris. Venceu a primeira luta (assista acima) e parou na segunda rodada. “Eu lutei bem, mas eu me machuquei bem no começo da luta. Ganhei, mas não consegui lutar a segunda. Eu não conseguia nem colocar o pé no chão, machuquei o tornozelo”, conta.

A segunda foi meses depois, já no início do retorno das competições. Foi amistosa, em Portugal, mas rendeu o maior desafio até agora. Disputou a final contra a portuguesa medalhista olímpica Telma Monteiro. E venceu.

“Uma atleta muito importante que foi a Telma. Eu já tinha treinado com ela em Portugal. Nessa competição eu sabia que a maior dificuldade que eu teria seria ela. Foi uma luta dura, foi até pro Golden Score, mas eu sai feliz porque eu consegui uma finalização no ne-waza e saí campeã da competição”.

Logo depois veio o Grand Slam de Budapeste, e Jéssica parou de novo na segunda rodada. Nada que desanime ou a faça pensar se a mudança foi realmente uma boa para o judô dela.

“Com certeza (foi uma boa decisão). Eu evoluí muito já nesse tempo, ainda tem muito a evoluir com certeza, mas estou em uma grande evolução. A gente tem feito bastante estudo (sobre adversárias) então eu acredito que vou conseguir grandes resultados”, aponta, com decisão.

Por: Olimpíada Todo Dia


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