quarta-feira, 21 de outubro de 2020

#Tenorio50: seis medalhas seguidas criam o mito do judô paralímpico


"O cara se transforma. Ele é a Ferrari das Paralimpíadas." A frase é de Jucinei Costa, ex-treinador da Seleção Brasileira de judô paralímpico e, de certa forma, resume a carreira de Antônio Tenório. Não que faltem outros títulos ao atleta campeão mundial em 2006, brasileiro mais de duas dezenas de vezes e medalhista em quatro edições de Parapan-Americanos. Mas foi a trajetória em Jogos Paralímpicos que, de fato, o transformou em lenda.

Logo após o primeiro ouro, em Atlanta 1996, Tenório repetiria o feito em três edições seguidas: Sydney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008. Detalhe: as quatro medalhas douradas se deram em três categorias diferentes. Em 1996, ele lutava no peso até 86 kg. Quatro anos depois, pulou para os médios (até 90 kg). Nos ciclos grego e chinês, já estava entre os meio-pesados (até 100 kg), o que demonstra a capacidade de se reinventar física e tecnicamente de acordo com o passar do tempo e sua mudança corporal.

"Ele sempre foi muito profissional. Sempre entendeu que, para receber algum investimento, precisaria seguir tudo à risca. Não faltava a treino, não ia para noitada, fazia parte física, fazia parte técnica. Ele entendeu que, mesmo cego, poderia ser como qualquer outro atleta de Seleção Brasileira", explica Jucinei, que o acompanhou nos ciclos de Atenas e Pequim.

Tenório precisou acompanhar também a evolução do judô e das Paralimpíadas, que cresceram em importância e tamanho. "Atenas foi um divisor de águas", opina o ex-treinador, referindo-se ao fato de ter sido a primeira edição na qual Olimpíada e Paralimpíada estiveram sob a batuta do mesmo Comitê Organizador Local. "Com essa junção, a Paralimpíada cresceu muito. Os comitês nacionais de todos os países viram que o movimento iria crescer, então, o investimento começou a acontecer de forma global. Manter o Tenório campeão era um desafio porque subiu bastante o sarrafo, surgiram vários atletas."

O sensei se recorda de outro fato marcante na campanha em Atenas: "Tinha um adversário muito forte que ele não havia vencido, um argelino. Era um atleta que gerava questionamentos sobre a classificação oftalmológica. Estudamos vídeos, procuramos atletas com as mesmas características para usar nos treinos. Mas aí, durante a avaliação, esse argelino foi desclassificado. Confesso que trouxe um certo alívio. Mas judô não dá para dormir, não pode entrar achando que já venceu". Os quatro combates vencidos, incluindo a final contra o chinês Run Ming Men, mostraram que clima de já ganhou não era coisa do agora tricampeão paralímpico.

Quatro anos depois, em Pequim, a "Ferrari" seguiria fazendo os rivais comerem poeira: em sua chave, passou pelo ucraniano Mykola Lyivytskyi, o norte-americano Myles Porter e o iraniano Hamzeh Nadri. Na decisão, superou Karim Sardarov, do Azerbaijão, e colocou o quarto ouro ao redor do pescoço. A trajetória desta conquista, por sinal, você poderá acompanhar neste sábado, às 16h, na página do Facebook da CBDV, que exibirá na íntegra o filme "B1 - Tenório em Pequim".

Resiliência para se manter no pódio

A partir do ciclo de Londres 2012, a comissão técnica da Seleção mudou. Entraram Alexandre Garcia e Jaime Bragança. A missão não era simples. Nos Jogos londrinos, Tenório estaria com 41 anos e enfrentaria oponentes bem mais novos. "O grande desafio era mantê-lo em alto rendimento", relata Garcia.

Na estreia, o brasileiro derrubou o tailandês Sahas Srijarung com um ippon. A primeira derrota da carreira em Paralimpíadas veio nas quartas de final, diante do russo Vladimir Fedin, de 25 anos, que conseguiu um yuko de vantagem. Poderia significar um baque emocional difícil de superar, mas os ensinamentos de um antigo sensei estavam vivos na memória de Tenório: "Sempre disse a ele que não interessava qual a medalha, mas estar no pódio", conta Fernando da Cruz, primeiro técnico com quem o judoca se sagrou campeão paralímpico.

Sem se abater, o brasileiro voltou para a repescagem e partiu obstinado em busca do bronze. Para isso, superou o japonês Aramitsu Kitazono e o iraniano Hamed Alizadeh. A quinta medalha veio para ampliar a coleção.

A partir dali, começariam os rumores sobre a aposentadoria do judoca. E essa dúvida acabou servindo de combustível para mais um ciclo de quatro anos. A Rio 2016 desafiaria seus limites. "Foi um momento muito especial e marcante para todos. O Tenório é um atleta muito experiente e estava bem preparado tecnicamente, fisicamente e psicologicamente, o que facilita muito o trabalho de quem está ao seu lado. Acredito que foi um momento muito marcante para ele", diz Garcia.

Sob os gritos e aplausos de uma Arena Carioca 3 lotada, Tenório, aos 45 anos de idade, passou por três lutadores – o alemão Oliver Upmann, de 28, o britânico Christopher Skelley, de 23, e o então vice-campeão mundial, o uzbeque Shirin Sharipov, de 26. A disputa pelo ouro reservou um duelo especial com o sul-coreano Gwang-Geun Choi, 17 anos mais novo e campeão quatro anos antes, em Londres. A Paralimpíada viu, pela primeira vez em duas décadas, Tenório sofrer um ippon.

Imediatamente ao se levantar, o brasileiro abraçou Choi, ergueu o braço do oponente para que recebesse os aplausos da torcida da casa e sorriu. Ali, outra lição era transmitida: ser o maior de todos os tempos significava também aceitar a derrota e a prata, que ele saboreou enquanto escutava no segundo degrau do pódio o som do Hino Nacional.

Despedida no berço do judô?

Como se não bastasse atravessar mais um ciclo se preparando, Tenório ainda teve de superar o adiamento em um ano dos Jogos de Tóquio para 2021 por conta da pandemia. No país onde o judô nasceu, o atleta levará seus 50 anos de vida e toda a bagagem adquirida nessa jornada para, quem sabe, encerrar a carreira.

"O mais importante é exigir o máximo dele, com um cuidado especial para não ocasionar lesão. Falando de Tenório, a possibilidade de medalha se torna real. Existem outros atletas, mas nenhum em destaque como ele", aponta Garcia.

"Essa ida para o Japão, ele não precisa provar nada para ninguém. Está treinando, fazendo a lição de casa direitinho, e o sonho dele é a sétima medalha. E outra: tem um peso enorme para quem está no tatame saber que, do outro lado, está o Tenório”, complementa o sensei Fernando, sempre sábio em suas observações. Afinal, a história já mostrou que duvidar de Antônio Tenório da Silva é sempre o primeiro erro de seus adversários.

Semana #Tenorio50

Antônio Tenório da Silva, o maior judoca paralímpico de todos os tempos, vai completar 50 anos de vida no próximo sábado (24). Desde segunda, a CBDV trouxe em seu site oficial reportagens relembrando a carreira do atleta. As homenagens seguirão até o dia do aniversário, com uma edição especial do "CBDV Ao Vivo" – programa de entrevistas realizado nas nossas redes sociais – com o aniversariante na quinta (22), às 15h, em nosso Instagram, além da exibição do filme "B1 - Tenório em Pequim", que narra a trajetória do ouro em 2008, totalmente gratuita na nossa página do Facebook.

Comunicação CBDV - Renan Cacioli


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