sexta-feira, 23 de outubro de 2020

FIJ: Pelo amor ao judô


Pelo amor ao judô, tive que fazer dois testes para descartar qualquer vestígio de coronavírus. Tive a impressão de que as enfermeiras faziam um concurso para ver quem ia mais longe com aquelas varas compridas que parecem instrumentos de tortura.

Pelo amor ao judô, acordei às três e meia da manhã. Tive que pegar dois aviões, o primeiro às seis horas, e dirigir por estradas desertas resistindo ao ataque do vento cujas rajadas chegavam a cento e quarenta quilômetros por hora.

Por amor ao judô e por ser disciplinado, tive que aguentar a fome e a sede e as opções de refresco alheio, pois estava combinado uma perda temporária de liberdade. 

Já em Budapeste e, sempre pelo amor ao judô, tive que me submeter a outra prova e me armar de paciência por nove horas em meu quarto de hotel até que os resultados me fossem comunicados.

Pelo amor ao judô, tive que conter a vontade de abraçar meus colegas, que não via cara a cara desde março. Todos aguardavam o momento de sair dos quartos, para celebrar o frágil princípio da normalidade.

Foi um reencontro sóbrio, mas feliz. Havia vinho, cerveja, água para os mais saudáveis ​​e nada para os mais sérios. Havia alívio nos rostos cansados ​​e entusiasmo pelo que estava por vir.

Pelo amor ao judô, acordei cedo para desfrutar de um café da manhã normal sentado à mesa com um colega de trabalho. Todos apareceram com vontade de trabalhar, com toda a antecipação guardada por meses.

Pelo amor ao judô, cerrei os dentes e encolhi o estômago para colocar calças que sofrem as consequências de um confinamento gastronômico demais.

Pelo amor ao judô, tive que assistir a um vídeo tutorial na internet para lembrar como dar nó na gravata. Os sapatos? Eles estavam escondidos na área mais remota do guarda-roupa e eu tive que liberá-los como me liberto para estar pronta para trabalhar.

Pelo amor ao judô, eu coloquei minha máscara logo pela manhã e fui para o escritório, para o estádio onde o Grand Slam da Hungria iria nos inflamar. Lá, um minuto antes das primeiras competições, percebi que tinha valido a pena. Ver o judoca preparado, com seu judogi limpo e impecável, os funcionários em seus cargos, os voluntários atentos, todos sorrindo sob suas máscaras, todos ansiosos para finalmente ver o que há de melhor.

Claro que valeu a pena esperar, levantar cedo, fazer exames médicos e respeitar as normas, porque a dignidade vem do trabalho, porque a vida continua e sabemos encontrar soluções nos momentos difíceis. Pelo amor ao judô, sempre o faremos.

Por: Pedro Lasuen - Federação Internacional de Judô


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