terça-feira, 2 de março de 2021

Alunos do Projeto Budô apresentam manifesto: Quem é Vinícius Erchov?


Um manifesto redigido por Carolina Brandão, aluna da academia Projeto Budô do professor Vinícius Erchov, representando todos os alunos dessa academia rebate veementemente uma "matéria sensacionalista e fictícia" publicada em janeiro de 2020 em uma revista eletrônica, que não foi bem recebida por eles. Indignados, decidiram apresentar o manifesto em defesa do professor Erchov.

Quem é Vinícius Erchov?

Logo no primeiro mês de 2020 a Revista Budô publicou uma matéria com o título “Quem é Vinícius Rodrigues Jerschow?”. A matéria, por muitas vezes, ataca o professor e presidente da Associação Projeto Budô de Artes Marciais, em uma falha tentativa de desviar o foco dos importantes questionamentos levantados pelo professor e acadêmico em suas redes sociais sobre práticas duvidosas da Federação Paulista de Judô. Diferente deste artigo, em vez de esquivar de perguntas com ataques pessoais, iremos oferecer respostas às perguntas feitas. E com isso, temos o prazer de responder quem é Vinícius Erchov.

Vinícius Erchov, de origem russa, utiliza seu sobrenome com a grafia diferente da apresentada pelo jornalista da Revista Budô por uma questão de ancestralidade. O sobrenome original de sua família é "ЕРШОВ" em Russo e "Erchov" em português. Seu avô russo saiu da Alemanha após a segunda guerra mundial e veio para o Brasil sem saber falar o idioma e, por isso, o sobrenome ficou sendo Jerschow, que é a versão alemã do nome de sua família.

Erchov se destaca por duas grandes trajetórias: a acadêmica e a marcial. A marcial se inicia muito antes da acadêmica, aos 7 anos de idade com o sensei Carlos Penna. Desde então, houve apenas uma pequena pausa na prática do judô, que aconteceu dos 14 aos 18 anos, e foi retomada com o sensei Rioiti Uchida. O retorno ao judô aconteceu pouco tempo depois do início de sua carreira acadêmica, que se iniciou aos 17 anos com seu ingresso no curso de História na Universidade de São Paulo (USP).

Sua carreira acadêmica reflete muito bem o interesse em sempre aprender e se especializar: Vinícius esteve na USP dos seus 17 aos seus 37 anos de idade, onde estudou História, Educação, Letras e Psicologia (que foi o único curso não concluído em seu tempo de universidade). Apesar de seu grande interesse pelas Ciências Humanas, foi no judô que ele decidiu seguir seu caminho profissional.


Antes de se tornar professor e de fundar o Projeto Budô, Vinícius Erchov teve uma trajetória 
notável nos tatamis. “Conheci o Vinícius há muitos anos. Sempre foi um atleta completo que participava das competições de shiai e de kata com excelência. Não é à toa que é campeão mundial de kata e vice-campeão mundial de shiai na categoria de veteranos” - declara Rodrigo Motta do ICI judô, 6º dan e amigo pessoal de Vinícius. Seus resultados em competições serviram de exemplo para muitos judocas “Eu o conheci provavelmente nas competições em que participávamos no interior, entre os anos de 1998 e 1999. Naquela época, todos éramos da Associação de Judô Alto da Lapa, mesmo quem treinava na unidade Wado Ryu (que era o meu caso). (...) Eu era criança na época, com meus 12, 13 anos e já admirava sua performance competitiva” - comenta George Erwin, sensei do Projeto Budô, 2º dan.

Ao longo dos anos acumulando vivências na universidade e no dojô, chegou um momento em que ele precisou decidir se seguiria trabalhando na área de sua primeira formação, História, ou se sua vida seria dedicada ao judô. Feita a escolha pelo caminho suave, no ano de 1999 se iniciou o grupo do Projeto Budô. Sua primeira turma, formada no extinto colégio Mário de Andrade, formou nos tatamis e na vida judocas que estão com o grupo até hoje.

O grupo que começou tímido em um dojô improvisado na escola situada na zona oeste de São Paulo, foi crescendo e, em 2005, se oficializou tendo seu nome e identidade registrados. Como sensei, Vinicius Erchov conseguiu e consegue até os dias de hoje conduzir um grupo sólido, que já formou 31 faixas-pretas (entre Shodan e Yondan), entre médicos, advogados, dentistas, publicitários, biólogas, engenheiros, educadores, arquitetas, administradores e outros profissionais qualificados que aprenderam também a aplicar o judô em diversos contextos de vida.

George, um de seus alunos mais graduados, tem Vinicius como uma figura importante para o seu desenvolvimento - “dentro do judô seu sensei é seu norte. É muito triste quando a relação entre aluno (seitô) e professor (sensei) não funciona por algum motivo e ambos precisam seguir caminhos separados, porque é fundamental ter um sensei a sua frente. É ele quem te dá os conselhos necessários, quem te traz para realidade quando você está perdido, é quem te ajuda a levantar, te acolhe, te guia e te incentiva. O sensei Vinicius sempre foi essa figura. Um misto de pai, irmão mais velho e professor. E entenda, ele não está sempre certo, não detém todo o conhecimento e eu também não preciso concordar sempre com tudo o que ele fala.

Alguns senseis são assim, ele não”. George reconhece a importância da maneira que ele conduz seus ensinamentos - “ele tem por hábito ensinar por exemplo. Então é o tipo de pessoa que de fato faz aquilo que fala e que te cobra nas aulas. É alguém com um profundo conhecimento técnico e habilidade para exercê-lo. Um professor sem igual, completo em sua função, sem dúvidas”.

No judô, Erchov fez muitos amigos: “Acima de tudo, é um grande camarada”, diz Motta. A amizade de Rodrigo Motta e Vinícius Erchov mostra que divergências políticas e de opinião
podem existir dentro de uma amizade quando há o respeito mútuo. Algumas pessoas se chocaram com as discussões acaloradas entre os dois em suas redes sociais e chegaram a fazer comentários maldosos, assumindo que eles haviam se tornado inimigos. Tudo foi desmentido com um vídeo bem-humorado de ambos que, lado-a-lado em um momento pós treino, disseram que eram amigos acima de tudo e que ali havia muito respeito e carinho. Carinho é uma palavra muito presente na relação entre o sensei Vinicius e seus alunos, e suas demonstrações muitas vezes ultrapassam o limite físico do dojô. Um dos exemplos mais marcantes foi quando, em uma de suas viagens para competir fora do Brasil, sua casa foi acometida por um incêndio. Antes mesmo que Vinícius soubesse do ocorrido, um grupo de alunos do Projeto Budô se prontificou a ir em sua casa ajudar na limpeza e na recuperação do que fosse possível.

Em 2013, um ano após o trágico acidente que destruiu por completo sua casa, Vinicius teve a oportunidade de fazer dois cursos técnicos na Kodokan. Novamente, com a ajuda direta de seus alunos que criaram eventos para ajudar a custear sua viagem ao Japão, ele conquistou
para o Brasil a inédita (em todo o hemisfério sul e nas Américas) certificação em Eficiência Técnica, seguramente a maior conquista técnica do Judô brasileiro até então. Com Luís Alberto Dos Santos como dupla, Vinícius Erchov recebeu na frente de todo o grupo, diretamente das mãos do saudoso Sensei Matsushita e com o olhar atento do mítico Sensei Toshiro Daigo, tal honraria; colocando o Brasil no rol dos países com qualidade técnica de Judô respeitada pela Kodokan e seus professores.

"Para mim foi certamente a maior conquista em cima dos tatamis por vários aspectos. Primeiro por sentir uma emoção maior que os títulos mundiais, haja vista onde eu estava e quem estava na avaliação e no curso; segundo pelas dificuldades de disputar o Nage no Kata como Tori e Uke e não ter podido treinar o quanto eu queria naquele momento pelo fato do Sensei Luís Alberto estar lesionado; terceiro, e certamente o mais importante, por há menos de um ano do ocorrido eu ter perdido todas as coisas materiais, incluindo todas as medalhas de mundiais e etc, além da casa como um todo, e ver o empenho e iniciativa de cada aluno e seus familiares fazendo eventos para que eu pudesse ir ao Japão realizar esse curso e essa prova” - afirma Vinicius.


A força que o grupo demonstrou ao se unir para conseguir fundos para a tão sonhada viagem 
comoveu Vinicius e serviu como um incentivo sem igual – “Eu transformei toda essa energia deles em uma autocobrança e responsabilidade de fazer o melhor possível em nome deles e do país. Fiquei sem dormir na noite que antecedeu a prova, refiz todos os movimentos na cabeça por toda a madrugada, pensei em cada sorriso e gesto que recebi deles e com a qualidade, parceria e coragem do Sensei Luís Alberto, conquistei essa certificação.”

Vinicius destaca ainda que ficou surpreso com a conquista e emocionado com toda a situação – “Ao ser informado de que eu tinha conquistado aquilo para o país, com pessoas do mais alto gabarito participando também, como o sensei Luís Alberto dos Santos e sensei Rioiti Uchida, e que, em plena Kodokan, iria ser chamado à frente de todo o grupo para representá-lo, mais que o choque e emoção do absoluto ineditismo da conquista para o Brasil, foram as lágrimas mais fortes e gostosas da vida e uma sensação de dever cumprido para cada aluno do Projeto Budô que estava ali comigo representado."

Com o grupo grande e forte que se formou ao longo dos anos, em 2015 chegou o momento do Projeto Budô sair do espaço que dividia com a academia de karatê Wado Ryu, no qual foi muito bem acolhido por todo esse tempo, e montar um espaço próprio que seria referência para as demais academias de artes marciais. O imóvel situado na Lapa foi todo reformado também com a participação dos judocas do grupo, viabilizando o sonho do espaço próprio.

No espaço atual do Projeto Budô também foi possível acolher academias parceiras quando foi necessário: “Quando o ICI precisou de um local para treinar, pois o sensei Ishii encerrou as atividades na Pompéia, Erchov cedeu as instalações do Budô para treinarmos. Sem ele, talvez não existisse ICI. Por isso o dojô do ICI chama-se Vinícius Erchov”, conta Motta sobre a
parceria das duas academias e a homenagem ao amigo “Não tenho palavras para dar a dimensão da pessoa e do judoca que ele é”.

No final do ano de 2016 outro sonho antigo de Vinícius pôde ser realizado. Com um espaço maior para a academia, agora era possível abrigar um projeto social e levar o judô para crianças de comunidades carentes do nosso entorno. Através de uma parceria com o PAC – Projeto Amigos das Crianças, do apoio dos professores, alunos e seus familiares, foi possível criar duas aulas e atender ao todo 50 crianças com transporte, alimentação e judogis (uniformes de judô) gratuitos.


“O Vinícius visitou uma das casas do PAC no ano 2016, se identificou com o projeto e as ações 
e, a partir disso nasceu a parceria, que tem como objetivo dar condições de acesso ao esporte, além de formar o indivíduo em todos os aspectos, ajudando na formação do cidadão e
desenvolvendo habilidades e valores tais como disciplina, trabalho em equipe, respeito à hierarquia, espírito esportivo, realizar sonhos e transpor obstáculos.” – Explica Aline Jubilado Silva, coordenadora de atividades do PAC.

Sua personalidade como judoca e, sobretudo, como pessoa, também é reconhecida pelos seus alunos: “fora do tatami o Vinícius é o mesmo. Exemplo de retidão, conduta e determinação. Sonha alto, mas nunca deixa de lutar por esses sonhos, pelo contrário, é uma figura que inspira todos que estão à sua volta, convidando-os a sonhar seus sonhos e se permitindo sonhar os sonhos dos outros. Não sei medir com palavras o quanto isso é importante para uma sociedade. É o tipo da pessoa que faz o certo pelo certo, serve de exemplo para quem está em volta. Mas não ache que ele é infalível. Ninguém é e esse não é o ponto. Todos erramos o tempo todo, mas é importante saber que podemos voltar atrás, reparar os erros, mudar de opinião. Por vezes, quem não o conhece bem, vai achar que ele ou é duro demais ou mole demais (ele tem essas duas personalidades mesmo). Mas, na verdade, ele se esforça para ser justo e agir com equilíbrio”, George comenta.

Finalmente, na matéria da citada revista, há o episódio de uma condenação dele na justiça desportiva da FPJ por uma agressão verbal a um colega árbitro. O fato é que isso se deu com um histórico (e conhecido por todos do meio) desafeto de Vinícius em uma competição onde ele se viu absolutamente e propositalmente prejudicado (e a toda a equipe do Projeto Budô, dado que valia pontos para a Academia também) por esse cidadão, com notas clara e absurdamente mais baixas que as dadas pelos seus pares de arbitragem na mesma apresentação, o que fez sim Vinícius Erchov se dirigir a ele e questionar publicamente sua lisura, imparcialidade e honestidade. Isso lhe rendeu tal processo e, mesmo em juízo (onde lhe foi dada a chance de se retratar e ali mesmo se encerrar o caso sem punição), Vinícius na frente do juiz, advogados e do próprio desafeto manteve sua opinião pois disse entender que, além de tudo que lhe foi causado, as notórias práticas e o conhecido não cumprimento de regras deste cidadão no meio do judô (em arbitragem e graduação) lhe davam a certeza da posição que adotou.


Então, para responder à pergunta “quem é Vinícius Erchov” é preciso muito mais do que suposições rasas. É difícil responder à pergunta de forma simples, com uma palavra ou uma frase, mas é possível ter uma ideia da resposta ao conversar com seus alunos e seus amigos. Vinicius Erchov é uma pessoa que se coloca sempre como alguém que quer aprender, que busca sempre a excelência no que faz, que é um amigo fiel e que, sobretudo, não tolera injustiças. Esse, para nós, é Vinícius Erchov.

Carolina Brandão - Faixa Preta, Bióloga e Redatora.
Texto em nome de todos os alunos do Projeto Budô

Por: ASCOM Projeto Budô

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