domingo, 21 de junho de 2020

Minas Gerais: O que o judô tem a nos ensinar na pandemia?


Há muito venho querendo expor meus pensamentos sobre o quanto os ensinamentos de Jigoro Kano, criador do judô, podem (poderiam) ter nos ajudado no isolamento social ou quarentena. Entretanto, para isso talvez já não esteja em tempo, uma vez que as medidas de flexibilização do isolamento e reabertura do comércio estão aumentando e não há mais que se falar em lockdown quando se observa a movimentação na rua. No entanto, a pandemia ainda está presente e não dá sinais de quando irá embora.

Nós, judocas, sabemos o quão estamos prejudicados por não podermos praticar como antes nossa arte. Por envolver contato direto, é constante o risco de contaminação no nosso meio e nenhum especialista aponta previsão de quando será seguro voltar. Contudo, o judô não se trata só de treinar.

Como dito no começo, os ensinamentos presentes no judô podem nos ajudar e nunca foram tão atuais e necessários, em minha modesta opinião. Pois, Jigoro Kano, ao sistematizar o judô, criou não só um esporte (judô não é só Olimpíadas) e sim um sistema de ensino, uma arte, uma filosofia moral.

Para tanto, como dito em seu livro Energia Mental e Física (2009), há dois princípios que são a base de seus ensinamentos: o Seiryoku Zenyo (máxima eficiência) e Jita Kyoei (prosperidade mútua através dos benefícios e ajuda mútua) e ainda há que mencionar o princípio do Ju (suavidade).

São esses princípios que acredito nos ajudar a passar essa pandemia de uma melhor forma, ao menos podem nos fazer refletir o que estamos fazendo para assim proceder. Por exemplo, o princípio do Seikyoku Zenyo (máxima eficiência) é estabelecido ao judoca, por Kano, que esse proceda todos seus esforços de forma a ter a maior eficiência naquilo que se faz. Se queremos evitar a contaminação pelo coronavírus, devemos buscar fazer isso com máxima eficiência possível, buscando sempre respeitar as recomendações sanitárias e o distanciamento social, lavar sempre as mãos, sair só quando necessário e buscar estar sempre com hábitos saudáveis para ajudar o corpo no combate da doença em uma possível contaminação.

O Jita Kyoei (prosperidade mútua através dos benefícios e ajuda mútua), por sua vez, é transcrito ao judoca para que busque sempre beneficiar e ajudar seus colegas de treino porque só assim poderá prosperar, juntamente com aqueles que o acompanha. Ao ampliarmos isso para sociedade em tempos de pandemia, fica claro que certas pessoas estão mais vulneráveis que outras, seja por questões biológicas (devido as pré-disposição de doenças), seja socialmente devida a falta de renda essencial. Enquanto houver pessoas muito atrás das outras, dificilmente uma nação prosperará. Felizmente o que se viu nas redes sociais foram muitas campanhas de doações, seja de cestas básicas ou de insumos essenciais, para ajudar os mais necessitados, isso é na pratica o jita kyoei sem mesmo as pessoas saberem.

Além disso, esse princípio pode ser referência para outras medidas, como as pessoas que já se curaram e se dispuseram a ajudar nas pesquisa em busca da cura, ou dos jovens que buscam as compras no mercado para os mais velhos, até mesmo aqueles que simplesmente dão licença para o outro passar, tenho comigo que tudo isso só tem a ajudar nossa nação.

Você deve se estar perguntando, e quanto ao Ju (princípio da suavidade), a que ele se refere? A suavidade se dá no plano físico como a forma de encarar o adversário, se buscar medir força com oponente sempre será mais difícil derrotá-lo e até mesmo poderá perder, mas se sou suave, cedendo um pouco a força, e no movimento me coloco em posição de vantagem usando a força contra mim empreendida, terei mais sucesso podendo derrubar e vencer o adversário.

Esse princípio não precisa ser aplicado só nisso, como dito o judô é filosofia moral, e em tempos de crises e polarização, precisamos ser mais suaves em lidar com o outro diferente, ao invés de sermos duros, ríspidos, achar que somos mais forte e estamos certos, além de querer derrotar e humilhar aquele que de mim discorda. Por que não cedemos, conversamos mais e tentamos conciliar e respeitarmos mais a dignidade que cada um consigo traz?

Bom, era disso que queria falar, gostaria que não só os cidadãos lessem isso e refletissem, mas que os que estão em posição de poder de escolha à frente das nações buscassem aplicar mais esses princípios na busca de soluções para essa pandemia. Buscar ajudar e beneficiar uns aos outros com as descobertas para que a humanidade ache a cura e que fizessem isso buscando a maior eficiência possível, mas, para tanto, deverão ser mais suaves uns com outros, pode até parecer utópico e ingênuo, porém o judoca é aquele que aprende e busca ensinar o que compreendeu para que todos possam se beneficiar, e sempre estar pronto quando a sociedade precisar, apto a ajudar. Talvez essas palavras sejam uma forma de tentar.

Se você chegou até aqui e gostou dos princípios que o judô traz e não é um praticante da arte, te convido um dia a treinar, seja comigo ou com qualquer judoca em qualquer dojô (local de treinamento) e busque sempre estudar o judô e adentrar a tudo que Kano e seus discípulos têm a nos passar, como dizemos: Oss!

Sobre o autor:

* Luiz Gustavo Raposo Silva (Raposo) é faixa preta de judô primeiro Dan (shodan), professor de judô no projeto Triângulo Ativo, acadêmico de Direito, pesquisador em Bioética, Talento Politize com formação em liderança comunitária política e membro da diretoria da Liga Uberabense de Judô.

Por: Luiz Gustavo Raposo Silva para o Jornal Replay



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou da matéria? Deixe um comentário!
Aproveite e seja um membro deste grupo, siga-nos e acompanhe o judô diariamente!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Pesquisa personalizada