Nós, judocas, sabemos o quão estamos prejudicados por não podermos praticar como antes nossa arte. Por envolver contato direto, é constante o risco de contaminação no nosso meio e nenhum especialista aponta previsão de quando será seguro voltar. Contudo, o judô não se trata só de treinar.
Como dito no começo, os ensinamentos presentes no judô podem nos ajudar e nunca foram tão atuais e necessários, em minha modesta opinião. Pois, Jigoro Kano, ao sistematizar o judô, criou não só um esporte (judô não é só Olimpíadas) e sim um sistema de ensino, uma arte, uma filosofia moral.
Para tanto, como dito em seu livro Energia Mental e Física (2009), há dois princípios que são a base de seus ensinamentos: o Seiryoku Zenyo (máxima eficiência) e Jita Kyoei (prosperidade mútua através dos benefícios e ajuda mútua) e ainda há que mencionar o princípio do Ju (suavidade).
São esses princípios que acredito nos ajudar a passar essa pandemia de uma melhor forma, ao menos podem nos fazer refletir o que estamos fazendo para assim proceder. Por exemplo, o princípio do Seikyoku Zenyo (máxima eficiência) é estabelecido ao judoca, por Kano, que esse proceda todos seus esforços de forma a ter a maior eficiência naquilo que se faz. Se queremos evitar a contaminação pelo coronavírus, devemos buscar fazer isso com máxima eficiência possível, buscando sempre respeitar as recomendações sanitárias e o distanciamento social, lavar sempre as mãos, sair só quando necessário e buscar estar sempre com hábitos saudáveis para ajudar o corpo no combate da doença em uma possível contaminação.
O Jita Kyoei (prosperidade mútua através dos benefícios e ajuda mútua), por sua vez, é transcrito ao judoca para que busque sempre beneficiar e ajudar seus colegas de treino porque só assim poderá prosperar, juntamente com aqueles que o acompanha. Ao ampliarmos isso para sociedade em tempos de pandemia, fica claro que certas pessoas estão mais vulneráveis que outras, seja por questões biológicas (devido as pré-disposição de doenças), seja socialmente devida a falta de renda essencial. Enquanto houver pessoas muito atrás das outras, dificilmente uma nação prosperará. Felizmente o que se viu nas redes sociais foram muitas campanhas de doações, seja de cestas básicas ou de insumos essenciais, para ajudar os mais necessitados, isso é na pratica o jita kyoei sem mesmo as pessoas saberem.
Além disso, esse princípio pode ser referência para outras medidas, como as pessoas que já se curaram e se dispuseram a ajudar nas pesquisa em busca da cura, ou dos jovens que buscam as compras no mercado para os mais velhos, até mesmo aqueles que simplesmente dão licença para o outro passar, tenho comigo que tudo isso só tem a ajudar nossa nação.
Você deve se estar perguntando, e quanto ao Ju (princípio da suavidade), a que ele se refere? A suavidade se dá no plano físico como a forma de encarar o adversário, se buscar medir força com oponente sempre será mais difícil derrotá-lo e até mesmo poderá perder, mas se sou suave, cedendo um pouco a força, e no movimento me coloco em posição de vantagem usando a força contra mim empreendida, terei mais sucesso podendo derrubar e vencer o adversário.
Esse princípio não precisa ser aplicado só nisso, como dito o judô é filosofia moral, e em tempos de crises e polarização, precisamos ser mais suaves em lidar com o outro diferente, ao invés de sermos duros, ríspidos, achar que somos mais forte e estamos certos, além de querer derrotar e humilhar aquele que de mim discorda. Por que não cedemos, conversamos mais e tentamos conciliar e respeitarmos mais a dignidade que cada um consigo traz?
Bom, era disso que queria falar, gostaria que não só os cidadãos lessem isso e refletissem, mas que os que estão em posição de poder de escolha à frente das nações buscassem aplicar mais esses princípios na busca de soluções para essa pandemia. Buscar ajudar e beneficiar uns aos outros com as descobertas para que a humanidade ache a cura e que fizessem isso buscando a maior eficiência possível, mas, para tanto, deverão ser mais suaves uns com outros, pode até parecer utópico e ingênuo, porém o judoca é aquele que aprende e busca ensinar o que compreendeu para que todos possam se beneficiar, e sempre estar pronto quando a sociedade precisar, apto a ajudar. Talvez essas palavras sejam uma forma de tentar.
Se você chegou até aqui e gostou dos princípios que o judô traz e não é um praticante da arte, te convido um dia a treinar, seja comigo ou com qualquer judoca em qualquer dojô (local de treinamento) e busque sempre estudar o judô e adentrar a tudo que Kano e seus discípulos têm a nos passar, como dizemos: Oss!
Sobre o autor:
Sobre o autor:
* Luiz Gustavo Raposo Silva (Raposo) é faixa preta de judô primeiro Dan (shodan), professor de judô no projeto Triângulo Ativo, acadêmico de Direito, pesquisador em Bioética, Talento Politize com formação em liderança comunitária política e membro da diretoria da Liga Uberabense de Judô.
Por: Luiz Gustavo Raposo Silva para o Jornal Replay
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