sábado, 16 de junho de 2012

Jogos Olímpicos de Londres: "Não acreditava", diz primeiro palestino a se classificar para Jogos


O judoca Maher Abu Rmeileh fez história ao se tornar o primeiro atleta a obter vaga olímpica na Palestina, que até agora só participou das Olimpíadas com uma delegação de esportistas convidados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

A pouco mais de dois meses de competir ao mais alto nível internacional, Abu Rmeileh passa os dias como tem feito desde que se recorda: atendendo senhoras na modesta loja de lenços e bolsas que sua família possui na cidade murada de Jerusalém, perto da Via Dolorosa.

O atleta, 28 anos, acorda às 5h da manhã para treinar das 6h até as 8h, trabalhar no posto do velho mercado até 18h ou 19h e ainda consegue mais duas horas para treinar após o pôr do sol, antes de voltar para casa com sua mulher e seus dois filhos, de 6 e 4 anos.
"Quando me chamaram do Comitê Olímpico eu não conseguia acreditar. Sabia que tinha bastantes pontos, porque consegui 20 no Mundial de Tóquio de 2010, mas não imaginei que seriam suficientes para ir a Londres", explicou, emocionado.
Maher vai todas as tardes, há 22 anos, a um ginásio local, onde aprende com o treinador do bairro. Até um mês atrás, pagava 80 euros (mais de R$ 200) mensais para treinar, e ninguém jamais financiou essa cota ou os gastos de equipamento.

No Clube Al Quds, localizado em uma rua estreita perto da cidade velha, os judocas são treinados em uma sala modesta polivalente, que serve como uma sala de reunião, sala de reuniões e sala de ginástica, em que cadeiras foram empilhadas umas sobre as outras pasa se colocar todas as tardes tapetes verdes e vermelhos.

"Meu pai foi meu primeiro treinador. Com seis anos, me levou a seu ginásio e começou a me ensinar. Me ver chegar aos Jogos Olímpicos era seu sonho. E também o meu e de toda a família", explica Maher, sorridente.
Felizmente, o judô não é um esporte que precisa de grandes investimentos em equipamentos, caso contrário não conseguiria chegar nunca à competição.
Perguntado sobre os motivos por que nunca um palestino se classificara para os Jogos, ele assegura quem dos problemas é que "as federações não tem fundos para enviar seus atletas aos países e, se não se compete fora, não se conseguem os pontos necessários para a classificação".

Sem querer abordar o conflito com Israel, também disse que há atletas que não podem sair de Gaza e da Cisjordânia "por razões políticas", algo que ele pode fazer se tiver uma autorização de residência por ser de Jerusalém Oriental (ocupado por Israel em 1967). Também pode viajer pelo aeroporto de Ben Gurión (perto de Tel Aviv), um luxo que a maioria dos palestinos não pode pagar.

Maher sabe que "haverá competidores muito fortes em Londres" já que "há atletas que se dedicam somente a treinar. Mas isso não existe na Palestina."
"Aqui temos que trabalhar. Para mim, a prioridade é o trabalho, não o judô. Mas eu amo esse esporte, e por isso sigo adiante com todas as minhas forças. Eu gostaria que a minha experiência servisse para dar esperança às crianças e que vejam que podem tornar seus sonhos reais", assegura.

"Outros países, como a Jordânia, têm mais dinheiro, mas não tem ninguém que possa competir no judô em Londres. Eu não tenho dinheiro nem ajudas, mas tenho a vontade e a capacidade de lutar", assinala.
A Federação de Judô Palestina tenta encontrar a maneira de levá-lo a um treinamento intensivo de um mês antes de ir a Londres "em algum país forte como o Uzbequistão", diz, esperançoso.

Maher viajará a Londres com outros quatro palestinos convidados pelo COI, que a cada ano permite que atletas de nações em conflito possam competir, ainda que não tenham atingido os índices mínimos. Ele é, portanto, o primeiro atleta que tem uma oportunidade real de conquistar uma medalha para a Palestina e de subir ao pódio escutando ao fundo o hino de sua nação sem Estado.

Desde 1996 os Palestinos tem ido a sucessivos Jogos Olímpicos convidados pelo COI, após a assinatura dos Acordos de Oslo e a criação da Autoridade Nacional Palestina em 1994.

"Às vezes sinto uma grande pressão para trazer a Jerusalém a primeira medalha olímpica da Palestina, ainda que eu me conforme apenas em estar entre os quatro primeiros", disse.

Além de alcançar uma boa posição na capital britânica, Maher tem agora outro sonho: que o Comitê Olímpico local lhe conceda a honra de ser o líder da Palestina e possa dar a volta ao estádio levantando orgulhosamente a bandeira de um país que ainda em busca seu lugar na comunidade de nações.

Foto: EFE

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