sexta-feira, 15 de março de 2013

Algoz de Ronda no judô, holandesa descarta UFC: 'É só pancadaria'



Quando subiu ao tatame para as quartas de final dos Jogos de Pequim, em 2008, Ronda Rousey tinha o sonho em forma de ouro. A principal esperança dos EUA no judô feminino, porém, caiu aos pés da holandesa Edith Bosch, à época com um título mundial e uma prata olímpica no currículo. A americana se recuperou e, através da repescagem, conquistou o bronze e subiu ao pódio. Ainda assim, preferiu repensar seus próximos passos. Mudou de esporte, passou a praticar MMA e saiu vitoriosa da primeira luta entre mulheres no UFC, contra Liz Carmouche, no mês passado.

Bosch, sua antiga algoz, também saiu de Pequim com um bronze. Mas, ao contrário de Ronda, preferiu seguir no judô. Voltou a disputar as Olimpíadas em Londres e conquistou um novo bronze, sua terceira medalha em Jogos. Hoje, acompanha de longe os passos da americana no UFC. Aos 32 anos, chegou a treinar MMA, mas descarta repetir a mudança da rival. Seu caminho, ela diz, será outro.

- Eu vi a luta dela, ela vence tudo com sua chave de braço. E eu vi uma entrevista em que ela dizia que, depois de Pequim, não sabia o que fazer e que a única coisa que poderia fazer era treinar ainda mais pesado. Mas acabou entrando no MMA. Eu treinei MMA e gostei. Mas, na Holanda, é um esporte que não é visto de uma maneira positiva. Você luta contra outra pessoa no judô e há respeito. No MMA, é só pancadaria no outro. Acho que o que ela tem feito é ótimo, mas não é para mim. Eu não tenho problemas com Ronda, mas eu estudei. Tenho minhas ambições para quando deixar o judô, quero ter uma carreira – disse a judoca, que tem um diploma em economia, mas ainda não sabe qual será seu rumo quando deixar o judô.


Bosch está em sua 15ª passagem pelo Brasil. Ao lado de outros judocas holandeses, ela participa de um período de treinos com brasileiros e franceses em São Paulo. Uma das judocas mais vitoriosas do seu país, ela admite que logo deve deixar os tatames. Ainda que não marque nenhuma data, garante que não tentará a quarta medalha olímpica no Rio de Janeiro, em 2016.

- Eu não vou seguir até 2016. Londres foi minha quarta participação em Olimpíadas, não ganhei o ouro, mas tenho três medalhas. E agora eu tenho 32 anos e, honestamente, não sei se conseguiria ganhar uma medalha com 36 anos. Quer dizer, tudo é possível, nada é impossível. Mas, fisicamente, eu posso sentir que estou ficando velha. Os mais jovens treinam duas vezes por dia e, no dia seguinte, dizem: “Ótimo, vamos lá”. E eu reclamando de dores nas minhas costas, nos meus braços (risos). Eu comecei no judô com 7 anos, fui para o Mundial com 17. Ou seja, estou nessa há 15 anos. Eu estou feliz por estar de pé (risos). No Rio, só vou estar lá para assistir.

Simpática, a holandesa quase chora de rir quando lembra de uma experiência que a fez ser conhecida até mesmo por quem não acompanha judô. Nos Jogos de Londres, com ingresso em mãos, foi ao Estádio Olímpico para assistir à final dos 100m no atletismo. Ao seu lado, o britânico Ashley Gill-Webb passou a gritar insultos contra Usain Bolt. Na largada, atirou uma garrafa de vidro à pista, para a surpresa de Bosch. A judoca logo pulou em cima do torcedor e o conteve até a chegada da polícia. Do episódio, ela só lamenta não ter conseguido ver a vitória do jamaicano.

- É uma verdadeira piada. Porque eu sou mais famosa por ter empurrado um cara do que por qualquer medalha. Sério! Não no judô, mas fora dele. Aconteceu, eu estava lá, era quase como uma garota pequena animada por ver os 100m. Eu estava sentada logo em frente à largada, e veio um cara estranho gritando várias coisas que eu não vou repetir porque eram muito negativas. Eu me senti mal, comentei isso com uma pessoa que estava comigo. E, do nada, eu o vi tacando uma garrafa na pista. Tenho certeza que outra pessoa faria a mesma coisa, mas ele não imaginou que seria uma judoca (risos). É uma boa história para contar, mas é uma falta de respeito, os atletas treinam a vida inteira por aquilo. Mas eu estava no lugar errado, na hora errada (risos). Foi uma experiência que eu vou levar comigo pelo resto da minha vida. Pena que não consegui ver os 100m. Mas tudo bem, vi os 200m depois – brincou.

Nas últimas semanas, a holandesa tem treinado ao lado de jovens brasileiros, além de alguns veteranos. Em fase final da carreira, Bosch diz que ainda aproveita atividades ao lado de judocas iniciantes para aprender.

- Judô é um esporte estranho, porque você precisa dos seus oponentes para melhorar. Eu acho que franceses, brasileiros e holandeses dão uma boa combinação. São vários rapazes e garotas treinando juntos. Eu espero que eles se inspirem, todos têm seu próprio estilo, diferentes maneiras de lutar. Mas espero que eu possa inspirá-los. Se eu treino com outras meninas e rapazes, eles podem aprender. Mas eu também posso aprender com todo mundo. Judô é a arte de buscar a perfeição e estar sempre melhorando. Mesmo com essa idade e fazendo isso há tanto tempo, eu ainda me surpreendo. É o esporte que eu amo, é ótimo. Eu espero melhorar o nível deles, mas também espero melhorar o meu.

Por: João Gabriel Rodrigues - Globo Esporte


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