quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Blog do Rogério Sampaio: Aurélio Miguel, o maior nome do judô brasileiro.

Hoje quero prestar uma homenagem a um grande amigo. Mais do que isso, ele é o principal judoca brasileiro de todos os tempos, Aurélio Miguel.

Ele talvez seja o brasileiro com maior número de títulos internacionais. Todos conquistados numa época em que a estrutura do judô brasileiro era terrível. Nos tempos em que nós treinávamos em tatames de palha, enquanto o resto do mundo já tinha entrado na era do tatame sintético, semelhante ao que se usa hoje.

No tempo em que o Aurélio escreveu o seu nome na história do judô mundial, a Seleção Brasileira nem os clubes contavam com patrocínio. Exatamente por isso, pela falta de recursos, os judocas brasileiros quase não participavam de competições internacionais. O Aurélio Miguel foi um desbravador brasileiro no circuito internacional.

Sozinho, em 1984, ele embarcou para uma temporada fora do Brasil, ficou uma longa temporada na Europa e no Japão, disputando diversos torneios e conquistou excelentes resultados no então chamado circuito europeu.

O primeiro campeão olímpico da nossa história é um atleta técnico, que sempre se destacou pela determinação, poder de superação e perseverança.
Eu tive o privilégio de estar ao lado dele, em 1988, no circuito europeu, quando, de cinco campeonatos, ele foi campeão em três e vice em dois. Nas disputas em que ele foi superado, a derrota sempre veio pela pontuação mínima. Todos os adversários sofriam muito para vencê-lo. O Aurélio era um atleta muito difícil de ser superado.

Durante anos, viajei e competi ao lado dele pelo mundo afora e posso afirmar que nunca vi ninguém tão respeitado por todos os judocas como ele. Aurélio era respeitado por brasileiros e estrangeiros, não apenas como atleta, mas como pessoa, uma pessoa que sabe respeitar as outras e que não desiste de nada. O Aurélio não desistiu do seu sonho de ser um atleta olímpico, de ser um medalhista olímpico, de ser um campeão olímpico.

Nos tempos negros do judô brasileiro, o Aurélio sonhava com uma estrutura diferenciada. Por isso, ele comandou um grupo de atletas, do qual eu fiz parte, que tinha como objetivo reformular toda a estrutura do nosso judô. Ele, como todos os outros que lutaram ao lado dele, brigou por uma reformulação total no judô brasileiro que beneficiasse as próximas gerações. E, embora nem ele nem eu tivéssemos podido usufruir dessa nova estrutura, hoje vemos que essa luta não foi em vão.

O Aurélio Miguel esteve, recentemente, em Paris, acompanhando a Seleção Brasileira, como torcedor. Com certeza, ele deve ter se emocionado muito, já que o último título dele em Mundiais, o vice-campeonato de 97, foi conquistado no mesmo ginásio, o Palais Omnisport de Bercy, onde aconteceram as disputas desse ano.

Ele tem duas medalhas de prata em Campeonatos Mundiais, um ouro e um bronze olímpicos, muitos títulos continentais, pan-americanos e de importantes torneios pelo mundo. Na minha opinião, Aurélio Miguel é um dos 20 maiores judocas do mundo em todos os tempos.
Um judoca do porte do Aurélio também deve ter se emocionado com os resultados obtidos pelo judô brasileiro no Mundial da França. Ver o Brasil batendo recordes de conquista de medalhas e sendo vice-campeão mundial por equipes no masculino, pelo segundo ano consecutivo, decidindo o título contra a França, na casa deles, por 3 a 2, no golden score para ele, como para mim, é um sonho realizado.

A história de vida do Aurélio Miguel, em muitos momentos se confunde com a própria história do judô brasileiro. A nova geração precisa conhecer e honrar esse grande homem e judoca incomparável. Obrigado, Aurélio Miguel!!!


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