sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Blog do Rogério Sampaio: Meu ouro olímpico poderia ter sido da Bolívia.

Toda luta requer esforços e sacrifícios. É assim não só no tatame, mas também na vida. Hoje, às vésperas do início dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, me lembro da minha situação como atleta 20 anos atrás.

Como a maioria sabe, eu pertencia a um movimento que reivindicava melhores condições estruturais para o judô brasileiro e, por conta disso, eu e o meu grupo boicotamos as competições da CBJ e acabamos por ficar de fora da disputa dos Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991.

Com a frustração de não ter participado do Pan e vendo os Jogos Olímpicos de Barcelona se aproximarem, fomos tomados por uma preocupação muito grande. Afinal, todos os judocas do movimento eram os melhores do Brasil em suas respectivas categorias e, apesar disso, corríamos o risco de perder a chance de estar na Olimpíada.

Pensando nos ideais do judô brasileiro, mas sem nos esquecer dos nossos próprios sonhos como atletas, eu, o Wagner Castropil, o João Brigante e o Sérgio Pessoa, além do Luiz Carlos Novi, então diretor da Confederação Brasileira de Desportos Universitários, aceitamos o convite do Comitê Olímpico da Bolívia e participamos de um jantar, numa churrascaria em São Paulo, onde nos foi proposto nos naturalizarmos bolivianos e defender as cores da bandeira da Bolívia nos Jogos Olímpicos de Barcelona, diante da impossibilidade de representar o nosso país.

O Aurélio Miguel, campeão olímpico em Seul, quatro anos antes, ficou fora do grupo assediado pelos bolivianos, já que, por ter dupla cidadania, cogitava a possibilidade de disputar a Olimpíada como atleta da Espanha.

Se o nosso retorno às competições não tivesse sido viabilizado, como felizmente, aconteceu no início de 1992, eu poderia ter subido ao degrau mais alto do pódio em Barcelona para ouvir o hino e ver subir a bandeira boliviana.

Graças a Deus, a possibilidade de lutar pela Bolívia não deu certo e eu pude representar o meu país, lutar com as cores do Brasil no peito, tendo toda a torcida verde-amarela do meu lado.
No final de cinco lutas, ouvir o Hino Nacional Brasileiro e ver a nossa bandeira tremulando mais alta do que as outras teve um sabor especial. Afinal, eu poderia ter entrado para a história como o primeiro campeão olímpico do judô boliviano, mesmo sendo 100% brasileiro.


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