Nascida em 1981 na cidade de Registro, a ex-atleta olímpica Fabiane Mayumi Hukuda, hoje, senhora Fabiane Mayumi Hukuda Strubreiter, começou a treinar judô aos sete anos de idade quando então já morava na cidade de São Vicente, litoral paulista, em 1989. Vendo que a jovem garota tinha aptidão pela modalidade, em 1992 seus pais a transferiram para Santos, cidade vizinha, em busca de melhores condições de treinamento naquela época. E eles estavam certos: Em 1996 foi jovem revelação aos 14 anos ao vencer a 1ª Seletiva Olímpica de Atlanta.
A partir de 1996 começou sua carreira na seleção Brasileira onde conquistou vários títulos internacionais. No ano de 2000, aos 19 anos, entrou para história do Judô Nacional, tornou-se a primeira mulher brasileira campeã Mundial de Judô. Representou a seleção Brasileira de Judô durante 10 anos, casou-se em 2006 com o austríaco Hans Peter Strubreiter, ex-atleta da seleção austríaca de Judô e ex-massoterapeuta do Comitê Olímpico Austríaco . Naturalizou-se austríaca em 2006 e foi titular da seleção austríaca até 2009.
Durante toda sua carreira, Fabiane passou por vários clubes e teve como técnicos Mauro Arasaki (1992-1996), Floriano Almeida (1996-2000), Ney Wilson/Jomar Carneiro/Jucinei (2000-2001) Floriano Almeida (2001-2006), Hubert Rohrauer-AUT /Marko Spitka-GER/Bela Riez-HUN/Udo Quellmanz-GER/Willi Reizeldorfer-AUT/Klaus Stollberger-GER/Eduardo Pires-BRA-RJ (2006-2009). Como preparadores físicos, Floriano Almeida (1996 a 2000), Floriano Almeida/Rauno Simola (2001-2006), Marcus Albuquerque-RJ (2000-2001 e 2008).
E defendeu várias cidades e clubes durante o período que competiu:
1989 a 1991 Esportivo Petrópolis São Vicente;
1992 a 1998 Clube de Regatas Vasco da Gama Santos;
1996 a 1999 1a atleta fem. a integrar o Projeto Futuro em SP;
1997 e 1998 Atleta da cidade de Santos nos Jogos Abertos;
1999 São Paulo Futebol Clube;
2000 e 2001 Clube de Regatas Vasco da Gama – Rio de Janeiro;
2001 a 2005 Minas Tênis Clube – Belo Horizonte;
2006 a 2010 Multikraft Wels- Áustria (atual);
2010 Academia Rogério Sampaio- Santos ( para lutar o Grand Prix por equipes).
E com tanta história, não poderiam faltar os resultados:
OLIMPÍADAS
Participação em Atenas 2004 como titular -52kg
Participação em Atlanta 1996 como reserva -48kg
MUNDIAL
Campeã Mundial Júnior Tunisia- 2000
Vice-campeã Mundial Júnior Colombia- 1998
5° lugar Mundial Júnior Portugal- 1996
5° lugar Mundial por Equipes Bielorússia- 1998
5° lugar Mundial Universitário China- 2001
5° lugar Mundial Universitário por equipes China- 2001
7° lugar Mundial Alemanha- 2001
9° lugar Mundial Rio- 2007
PANAMERICANO
Campeã Panamericana Júnior Venezuela 1998
Vice-Campeã Panamericana por equipes Isla Marguerita- 2004
3° lugar Jogos Panamericanos Canadá- 2001
3° lugar Jogos Panamericanos Santo-Domingo 2003
3° lugar Panamericano Isla Marguerita- 2004
3° lugar Panamericano Júnior Colombia- 1997
5° lugar Panamericano Porto Rico- 1996
SULAMERICANO
Campeã Sulamericana Rio- 1996
Campeã Sulamericana Rio- 2004
3° lugar Jogos Sulamericanos Equador- 1998
TORNEIOS E COPAS DO MUNDO
Campeã Torneio na Itália 2000
Vice-campeã Torneio na Itália 2000
Campeã da Copa do Mundo de Praga 2001
Campeã Swedish Open Suécia- 2006
Vice-campeã Tree Torri Itália- 2000
Vice-campeã Copa do Mundo de Viena Áustria - 2009
3° lugar Torneio de Fukuoka Japão- 2007
3° lugar Torneio de Brauschwein Alemanha - 2008
Campeã Austríaca 2008
Campeã Italiana 2004
Campeã Mineira
Duas vezes Campeã Carioca – 2000 e 2001
Sete vezes Campeã Paulista – 1992 à 1998
Dez vezes Campeã Regional – 1989 a 1998
JOGOS ABERTOS
Campeã individual representando SANTOS em 1997 cat. -57kg
Campeã por equipes em 1997
Campeã individual representando Santos em 1998 cat. -57kg
Vice- campeã por equipes
JOGOS REGIONAIS
Campeã individual representando Santos em 1998 cat. 57kg
B.O.: Como uma das pioneiras do judô de alto rendimento feminino no país, hoje você está participando das competições, junto com seu marido Peter, como uma empresária e não mais como uma competidora. Qual foi seu sentimento nessa transição, visto que você treinou forte durante muito tempo, inclusive até o ano passado para o Grand Prix por equipes?
Fabiane: Quando optei a deixar a seleção austríaca de Judô, um dos motivos foi a minha lesão labral nos ombros direito e esquerdo. Se eu fosse mais nova, ainda dava para encarar duas cirurgias para correr atrás do ranking... Mas foi uma difícil decisão.
Quando fiquei na Áustria sem o Judô, me sentia meio deprimida, uma porque eu não estava acostumada a rotina de ficar "sem treinar" e a partir daí me caiu a ficha "eu não sou mais da seleção nacional, sou uma pessoa normal agora". Minha vida tinha que mudar e eu queria estudar. Eu e meu marido deixamos a Áustria em 2009 para ficar perto da minha família em São Vicente-SP e decidi estudar massoterapia como o Peter.
Hoje sou massoterapeuta e tenho uma empresa de Importação de Kimonos e Tatames- a MHM SPORTS ( site: www.mhmsports.com.br ). Viajo para vender nos campeonatos com o Peter, pois sabemos que o atleta competidor precisa de material de qualidade e de acessórios que são vendidos apenas fora do Brasil. Na época que lutava, eu só comprava kimono importado em campeonatos internacionais, pois no Brasil era difícil encontrar. A vantagem da MHM SPORTS é que você recebe o kimono em casa e ainda pode pagar parcelado.
Ano passado no Grand Prix por equipes foi a minha despedida dos tatames no Brasil, e na Áustria lutei pelo meu clube também em um torneio por equipes para minha despedida por lá. Algumas cidades me convidaram para lutar os Jogos Abertos este ano, mas meu objetivo no judô nao é mais competir e sim ensinar tudo o que aprendi para meus alunos e descartar tudo o que errei como atleta.
B.O.: Como foi sua trajetória no judô, até chegar à seleção nacional? Você integrou a seleção durante quanto tempo? Quais foram suas companheiras na seleção?
Fabiane: Sempre gostei de treinar muito quando era pequena. Meu sonho era chegar nas Olimpíadas, como o Aurelio Miguel, que vi na tv lutando em Seul 1988. Aquela cena nao saía da minha cabeca. Quando eu tinha oportunidade e quando visava campeonatos, eu treinava os 2 horários: O das crianças e o horário dos adultos - 4 horas seguidas!
Participei da minha primeira seletiva em dez 1995 com 14 anos, era a seletiva Olímpica de Atlanta. Ganhei 11 lutas e garanti a vaga na selecao brasileira senior. Eu era juvenil e faixa roxa. Meu primeiro torneio internacional foi o Torneio de Paris, eu era a única faixa roxa do ginásio com mais de 10 mil torcedores. Após a seletiva fui convidada pelo Sensei Floriano Almeida a morar no Projeto Futuro, isso em 1996, junto com a atleta Luciana Ohi- fomos as primeiras integrantes do Judô feminino. Quebramos as barreiras e até hoje continua o Projeto Futuro Feminino.
Na minha época viajei muito com Andréia Berti, Tania Ferreira, Danielle Zangrando, Vania Ishii, Edinanci Silva, Priscila Marques.
Fiquei representando o Brasil até dezembro de 2005, me casei em jan/2006 e fui morar na Áustria sem a intenção de continuar com o Judô. Fui voltando a treinar lá em uma cidade chamada Linz, quando falaram em me naturalizar para poder voltar aos tatames. Os técnicos me apoiaram muito, tive o apoio do Peter que também era nosso massoterapeuta na seleção austríaca e quem mais me ajudou no Judô foi a atleta Sabrina Filzmoser- medalhista mundial e bi-campeã européia e a Claudia Heill ( in memorian)-vice campeã olímpica em 2004.
B.O.: Como era sua preparação para as competições? Como era sua periodização, preparação física, tática e técnica?
Fabiane: Era muito treino, mas na Áustria a rotina era um pouco diferente do Brasil. A gente viajava mais para treinos de campo, fazia treino duas vezes por ano no Japão, tínhamos treino de altitude, treinos técnicos específicos e o meu condicionamento físico melhorou muito por lá. Em compensação, lá não tínhamos muitos parceiros de treino como no Brasil, por isso a necessidade de viajar muito. Os randoris eram feitos apenas três vezes por semana, os outros treinos eram divididos em fisicos e treinos técnicos específicos.
Em 2008 estive me preparando no Rio com o Marcus Albuquerque e com o Eduardo Pires em uma época que o Hubert Horhrauer saiu da Seleção Austríaca e foi para seleção israelense, pois havia treinado com eles no Rio em 2000 e 2001 e eles me ajudaram muito fisicamente, voltei para Áustria muito explosiva e forte. Mas infelizmente não consegui me classificar para o ranking Olímpico de Pequim.
Antes das competições o treino era bem reduzido, apenas estímulos de velocidade bem curta, explosão e leves randoris para "soltar" golpes. Até mesmo no Naguekomi, na Áustria quem era da seleção apenas derrubava e era proibido de cair- evitando assim, micro lesões por quedas.
Um dia antes de competir, eu evitava treinar, fazer sauna ou correr para tirar peso, para entrar no dia da competição com o corpo "fresco" e não cansado do treino ou da corrida.
B.O.: Está fazendo algum trabalho com o judô? Está dando aulas? Onde?
Fabiane: Desde Janeiro de 2011 comecei a dar aulas no Vila Souza Atlético Clube- em Pitangueiras, no Guarujá-SP junto com o Sensei Leandro Bello. Nosso presidente do Clube o Sr. Luiz Martins é apaixonado por Basquete e Judô e tem incentivado muito a prática esportiva no clube. Também são aceitas inscrições de não-sócios. Nossos judocas podem iniciar a prática a partir de 4 anos de idade.
B.O.: Como você vê a evolução do judô e o que acha que ainda vai melhorar a curto, médio e longo prazo?
Fabiane: Na minha época a divulgação era muito difícil, a CBJ nao tinha patrocínio. Meus pais tiveram que investir muito em minhas viagens. Hoje no Brasil a realidade é outra, o investimento da CBJ chega até as categorias de Base, coisa que naquela época era impossível.
O Judô tem se profissionalizado muito no Brasil e acredito que após as Olimpíadas do Rio 2016 muita coisa ainda vai crescer e melhorar. O que ainda tem que melhorar na evolução dos atletas mais novos é a importância do cuidado do Corpo e a Mente, como por exemplo:
a importância na prevenção de lesões, os cuidados com a auto-medicação, saber fazer um aquecimento e alongamento adequado, fazer e respeitar os fortalecimentos musculares, saber determinar objetivos e como alcancá-los, aprender que o descanso faz parte do treino, conhecer sobre a importância na alimentação e hidratação. Tudo isso e um pouco mais está dentro da equipe Multidiciplinar que já é disponibilizada dentro dos grandes clubes nacionais e na CBJ.
B.O.: Para encerrarmos nosso “Uchikomi”, por favor, deixe uma mensagem para os judocas.
Fabiane: Invista também em prevenção, cuide de sua mente/corpo e de suas lesões. Uma lesão mal cuidada bloqueia grande parte da sua carreira, uma mente saudável e positiva supera muitas barreiras. "Mens sana in corpore sano". Boa sorte!
gostei muito desta entrevista, pois tenho a alegria de conviver com a Fabiane no curso de massoterapia e não sabia de toda sua trajetoria no atletismo Brasileiro e fora do nosso Pais.Deixo aqui o que ela ouve sempre.....isto foi fantastico, maravilhoso,espetacular,sensasional,parabens
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