sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Jorge Fonseca. A "ganância" de ganhar, a "desconcentração" por não entrar na polícia e o "ego ferido"


Os mundiais de judô de Tashkent mostraram que afinal Jorge Fonseca é humano e comete erros com consequência. O judoca português ainda precisou de algumas horas para digerir e admitir o fracasso que foi o sétimo lugar e não se poupou a si próprio. Com a mesma frontalidade com que enfrentou o lugar mais alto do pódio nos últimos dois mundiais, o português explicou porque não esteve ao seu melhor nível mental, apesar de estar a 100% fisicamente.

Era bicampeão do Mundo (2019 e 2021), medalha de bronze Olímpico em Tóquio 2020, líder do ranking mundial e por isso o principal favorito ao ouro em Tashkent, mas terminou fora do pódio, após duas vitórias e duas derrotas por "culpa própria", como admitiu. Primeiro, ainda nos quartos de final, perdeu com o azeri Zelym Kotsoiev, 11.º do mundo, que viria a ser medalha de bronze, e, depois, quando relegado para a repescagem, caiu diante do georgiano Ília Sulamanidze (sexto).

"Foi ganância. Estava a sentir-me bem, estava bem. Já não tenho idade para cometer estes pequenos erros. Estava a ganhar por waza-ari, faltavam dois minutos, podia gerir de forma completamente diferente. Queria finalizar logo o combate, com a minha técnica forte, mas fui contra-atacado", explicou o judoca de 29 anos.

Se no combate com Kotsoiev viu-se perdido na indicação da arbitragem e foi surpreendido pelo azeri, no segundo deixou escapar uma vantagem que ele próprio tinha, alcançada ainda antes do meio do combate: "Fiquei frustrado, da forma em como fui contra-atacado. Quando dei por mim ele já estava a imobilizar-me e já não tinha como sair. Foi a gota de água, não estava à espera que fosse apanhado daquele jeito e não estava à espera que ele saísse da minha técnica favorita, porque ele estava bem encaixado, não tive a explosão necessária."

A "ganância de querer despachar o combate" levou-o à derrota e a uma "enorme desilusão". O judoca confessou que ficou "um bocado perdido com as coisas que se passaram ultimamente", incluindo não ter entrado para a polícia, mas recusou usar isso "como desculpa". No entanto confessou a "grande mágoa" por ter sabido que reprovou num exame de acesso à polícia através da televisão. Ele que "queria calar isso tudo" no Campeonato do Mundo, mas não conseguiu. E não só não entrou para a PSP como não revalidou o título mundial: "É uma bola de neve que nem sei ainda muito bem como gerir, mas acredito também que tenho uma carreira brilhante no judô pela frente."

E se alguém já deu provas de superação foi Jorge Fonseca. "Já passei por tantas coisas na vida, que não me vou abaixo. Superei um cancro, a seguir fui campeão do mundo, fui abaixo muitas vezes, levantei-me, isso é a vida de um atleta, altos e baixos. Não vou desistir, não sou de desistir tão rapidamente, tenho 29 anos, tenho muito andar para levar pancada e dar pancada, agora, é saber o que correu mal, tentar corrigir pequenos erros, e chegar ao próximo campeonato do mundo e ser melhor. Com ouro ou com bronze, mas quero estar no pódio", atirou o judoca do Sporting, admitindo que gostava de fazer uma pausa antes de apostar tudo no Masters - competição anual que junta os melhores de cada categoria - para sarar o "ego ferido".

Foto:  Filipe Amorim / Global Imagens

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou da matéria? Deixe um comentário!
Aproveite e seja um membro deste grupo, siga-nos e acompanhe o judô diariamente!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Pesquisa personalizada