Observamos uma grande adesão de crianças em iniciar à prática do Judô e o quão precoce isso acontece. Não é algo incomum, crianças de quatro anos vestindo judogui e realizando seu treino junto aos colegas, após uma longa jornada em sua Escola. No entanto, acerca dessa adesão surge um questionamento: É o Judô adequado para o desenvolvimento da Criança?
Quando pensamos no Judô vemos, que ele é cercado de uma forte influência da cultura japonesa, onde se preconiza o respeito, a colaboração e a disciplina, elementos esses muito bem conhecidos pelos praticantes e recitados como um mantra. São esses elementos que têm atraído os pais em matricular seus filhos nas aulas de Judô, na expectativa de conciliar o “útil ao agradável”, pois além de seus filhos realizarem uma atividade física, onde a criança está se beneficiando de todas as vantagens, como por exemplo: o combate ao sedentarismo, à criança em contato com os valores elencados anteriormente e na expectativa dos pais, ver seus filhos interiorizarem esses elementos. Portanto, estamos à primeira vista, de frente à modalidade esportiva ideal, onde temos a aliança dos benefícios da atividade física e a interiorização de valores.
É fato, que o mestre Jigoro Kano quando postulou os principais objetivos do Judô preconizou a ideia de promover tanto o desenvolvimento físico quanto espiritual e por esse último entenda, de maneira simplificada, como exemplos os valores elencados anteriormente, sendo assim, a preocupação do Judô é a formação integral do indivíduo. No entanto, somente teremos os benefícios propostos pelo Judô quando esse é praticado de maneira adequada e, quando nos referimos à prática da modalidade por crianças é necessário uma “modulação”, observando às necessidades inerentes ao universo infantil e não apenas à expectativa dos pais. Portanto, o foco principal deve ser a criança. Isso torna um grande desafio àquele que ensina Judô, que sob essa ótica deverá ter tanto o conhecimento oriundo das bases do Judô, bem como subsídios para compreender esse período tão importante denominado infância. Sobre a dimensão temporal do contato da criança com o esporte, em especial o Judô, Tani (2001) elenca dois problemas: a iniciação e a especialização. No tocante à iniciação, o autor a descreve como o primeiro contato da criança com a modalidade e, quanto à especialização, a escolha de uma determinada modalidade a qual a criança pretende se especializar e concentrar todos os seus esforços. O autor ainda alerta, que ambas devem ocorrer em um momento adequado, mas infelizmente ocorrem com frequência de maneira precoce. A inserção da criança, em qualquer modalidade deve-se ponderar às demandas que a modalidade exige e, a compatibilidade com o período do desenvolvimento da criança.
Em resposta à questão exposta anteriormente, podemos dizer que o Judô contém elementos que auxiliam no desenvolvimento integral da criança, relacionando com os valores de cooperação, disciplina e respeito. Percebemos que a colaboração está diretamente ligada ao progresso mútuo, como ao treinar randori. Por mais que um dos alunos tenha mais habilidade que o outro, o professor explica que a ajuda do menos habilidoso é a possibilidade de ter “alguém” para treinar. Ao passo, que o mais habilidoso promove o progresso do menos, que procurará equiparar às suas habilidades. Além das bases filosóficas, o Judô contribui com um forte formalismo, seja ao executar os cumprimentos, a etiqueta ao adentrar no tatame, a vestimenta, etc. Tais formalismos são pontos que caracterizam o Judô. Para que o Judô se torne uma “modalidade ideal” é vital que o professor além de deter os conhecimentos pertinentes ao universo do Judô é necessário observar o grau de exigência, com o período do desenvolvimento infantil e, assim teremos em longo prazo Judocas condizentes ao proposto pelo mestre Jigoro Kano.
Referência:
TANI, G. A Criança o Esporte: Implicações da iniciação esportiva precoce. In. R.J. Krebs; F. Copetti; M.R. Roso, M.S. Kroeff e P.H. Souza. “Desenvolvimento infantil em contexto – Livro do ano da Sociedade Internacional para Estudos da Criança. Florianópolis: Editora UDESC, p. 101-113, 2001.
Por: Fernando Ikeda
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