Quem chegava para acompanhar ou participar do treino da seleção brasileira comandado pelos técnicos Luiz Shinohara e Rosicléia Campos, logo percebia a presença de Paulo Duarte, o mestre que dentre outros nomes moldou os talentos do campeão olímpico Rogério Sampaio, do duas vezes medalhista olímpico Leandro Guilheiro, de Danielle Zangrando, primeira mulher brasileira a conquistar medalha em Mundial, e Marcos Daud, vice-campeão mundial junior. Aos 65 anos, 58 deles dedicados ao esporte, o kodansha tem muito o que ensinar aos atletas que estão concentrados em São Paulo até o dia primeiro de fevereiro.
“A nossa tradição é de uma técnica mais apurada porque a maior colônia de japoneses fora do Japão está no Brasil. Isso faz parte da nossa história. Grandes mestres do judô vieram para cá e foram eles que introduziram o esporte no Brasil. A Confederação vem valorizando essa historia, fazendo com que a base vá competir na Europa e treinar no Japão. Mas eu acho que nós ainda precisamos nos aprimorar mais tecnicamente”, disse.
Entre os atletas observados, e orientados, pelo professor Paulo Duarte estão Victor Penalber, Felipe Kitadai, Rafael Silva e Alex Pombo.
“Todos que chegam perto de mim, eu procuro ajudar. Chega um determinado momento em que eles precisam de um ajuste fino. E se eles chegam perto da gente é porque confiam em nós, no nosso trabalho. Eu vi que há um tempo atrás o Rafael Silva, por exemplo, estava mais lento porque estava com pouca massa magra. Hoje, eu vejo que ele está mais lépido porque está mais musculoso e isso precisa ser desenvolvido”, disse.
A história do sensei Paulo Duarte no judô começou aos sete anos de idade, em Brasília. E foi uma paixão arrebatadora porque desde cedo soube o que iria fazer para o resto da vida: viver de e para o judô.
“Eu acho que cada um de nós tem uma missão. Eu sou teólogo por formação mas com 12 anos, eu já dizia para minha mãe que ia ser professor de judô. Sempre tive minha carreira definida. Sou um homem muito feliz porque me realizei profissionalmente. Nunca fiz outra coisa na vida sem ser judô”, comentou.
Mas a vida de atleta foi abreviada por conta de um erro médico. Aos 18 anos teve uma lesão no joelho enquanto treinava. Após a cirurgia para corrigir a lesão, teve uma infecção hospitalar e foi obrigado a amputar a perna direita.
“Eu estava começando a me destacar como atleta e isso acabou abreviando minha carreira como atleta. Porém, fez com que minha carreira como técnico começasse cedo. E eu tenho a sorte de pérolas caírem na minha mão. Primeiro foi a Danielle Zangrando, que com 15 anos já estava na seleção e se tornou a primeira menina brasileira a ganhar uma medalha em campeonato mundial. Ela começou a treinar comigo com seis. Depois vieram Rogério Sampaio, Marcos Daud, Ricardo Sampaio, Leandro Guilheiro... Nós como professores temos que pontuar o caminho e deixar que eles cheguem”, analisou.
Uma análise que exemplifica a humildade já que é sabido que um mal lapidador pode fazer com que uma pedra preciosa perca seu valor. E a humildade é apenas um dos valores que esse mestre pretende deixar para as gerações futuras.
“Estou escrevendo um livro que se chama ‘Pedagogia do Exemplo no Judô’. Os kodanshas são multiplicadores dos ensinamentos deixados pelo mestre Jigoro Kano e temos que ter um cuidado muito grande com a nossa postura, com nossa ética. Afinal, uma técnica apurada acompanha uma postura ética e moral adequada”, concluiu.
Por: Assessoria de Imprensa da CBJ