quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Mogi das Cruzes: Um preparador de campeões


São 33 anos de carreira. Paulino Tohoru Namie, 55 anos, dedicou a maior parte de sua vida ao judô. Neste período e ao lado de sua equipe, ensinou a atividade esportiva para mais de três mil alunos. O grupo, que hoje atua em uma sala no Centro Esportivo do Socorro, formou dezenas de campeões. E hoje possui os ex-alunos Aine Schmidt, Gabriela Clemente e Nykson Carneiro na Seleção Brasileira das Equipes de Base – promessas para defenderem o Brasil nos jogos de 2020, no Japão. E é do país do outro lado do planeta que imigrou Ceya Kuroda, responsável por ensinar novas técnicas e promover o desenvolvimento do judô mogiano, reconhecido em todo o Brasil.
São apenas algumas histórias reveladas pelo sensei Paulino faixa preta 6º dan coral, condecoração adquirida com muita luta nos tatames. Mogiano do Cocuera, ele recebeu os primeiros ensinamentos e deu os primeiros passos e golpes na modalidade esportiva na Sociedade dos Agricultores do bairro. Cresceu e passou a maior parte da infância no Casarão do Chá, onde brincava e ajudava a família na colheita do produto.
Aprendeu a lutar judô com o pai, o ex-vereador Sethiro Namie, que ensinou a modalidade a todos os filhos. Dos cinco irmãos, Paulino foi o único que seguiu com o esporte que lhe deu conquistas dentro e do lado de fora dos tatames.
Casado e pai de três filhas, Paulino recebeu a repor-tagem de O Diário para contar um pouco da história da sua vida esportiva e, claro, do judô mogiano. Fala com alegria de ajudar no crescimento de muitos alunos e do reconhecimento dos atletas.
Na entrevista, Paulino ainda opina sobre o futuro do esporte brasileiro e pede mais apoio dos empresários para o crescimento da modalidade que garantiu o maior número de medalhas olímpicas para o Brasil, como segue: (Gerson Lourenço)
Quer dizer que frequentou muito o famoso Casarão do Chá?
A minha família toda é do Bairro Cocuera, onde plantava chá. Meu avô, Arizo Namie, era japonês e ficou com a parte do Casarão após a propriedade, a fazenda ser loteada. Meus pais (Sethiro e Mary) vieram de Registro (cidade no lado sul do Estado de São Paulo – no Vale do Ribeira). E passei toda a minha infância no Casarão do Chá. Corria no meio das máquinas. Com meus irmãos e amigos da vizinhança era esconde-esconde, pega-pega, fazíamos muitas brincadeiras. No Casarão tinha baile, casamento, aniversário, era um salão de festa para os moradores do bairro. 
Além de brincar, você também trabalhou na agricultura?
Eu colhia broto de chá. Era moleque, tinha uns nove anos e trabalhei na plantação. Toda a colheita ia para o Casarão, onde passava por vários processos como moagem, cozimento e secagem, até sair o chá para ser consumido. Morei no Casarão até casar, em 1990, com Regina. Hoje é uma área tombada.
Brincava, trabalhava... E estudava?
De casa ia a pé estudar lá na escola Sentaro Takaoka, onde fiz primário e ginásio e o colegial. Só tinha japonês na escola. De vez em quando aparecia uma professora “brasileira” (risos).
E o judô, apareceu na sua vida de que forma?
Com sete ou oito comecei a treinar judô. Ia do Casarão do Chá para a associação Sociedade dos Agricultores de Cocuera, onde os treinamentos eram realizados. Os meus tios também treinavam e muita criança do bairro fazia também. Comecei a treinar com meu pai, sendo que além dele (Sethiro) a família possui três faixas pretas – eu, que estou no 6º dan coral, o Durval é 1º dan e o Ricardo, 3º; o Carlos é faixa marron. O Cocuera era a potência do judô de Mogi. A Federação (Paulista de Judô – FPJ) foi criada em 1958 e meu pai foi um dos fundadores. Antes, os judocas eram filiados na Federação Paulista de Pugilismo. Meu pai era professor e querendo ou não tinha que treinar, tinha que estar lá. Mas quando cheguei na adolescência, entre 16 e 17 anos, decidi que queria continuar com o judô e estou até hoje.
Hoje você dá aula, é técnico e é o famoso sensei. Como era o judoca Paulino?
Quando decidi ficar no judô era porque começava a ganhar títulos e não parei mais. Ganhar títulos na ativa, o cara quer continuar, quer mais. Eu lutava bem, era disciplinado, como tem que ser até hoje no judô. Venci Paulista e Brasileiro. Jogos Abertos, só eu ganhei da minha geração de judô. Já era difícil ser campeão dos Regionais, que reunia associações do ABC, Litoral, Alto Tietê e Vale do Paraíba – a nata do judô estava deste lado do Estado, e está até hoje. Fui bicampeão dos Abertos em 1980/81, em Araçatuba e Ribeirão Preto. Era bom. O problema é que já naquela época era difícil viajar para fora do Brasil. O cara vencia um Brasileiro e não tinha condições de lutar um campeonato Sul-Americano, um Pan-Americano. Tinha que lutar no exterior por conta própria e era muito caro.
Quem do Brasil se destacava no exterior na sua época?
Eu sou da geração do Aurélio Miguel, um pouco mais novo. E ele chegou na olimpíada e foi medalhista. 
E você ainda teve tempo para lutar sumô?
Ainda lutei sumô. Fui campeão Brasileiro três vezes por equipes. Foram cinco anos conquistando pódios. Eu dava golpes de judô e me dava bem. Até hoje tem lutador de judô que passa para o sumô. É meio parecido. A Luciana Watanabe foi campeã brasileira e lutou mundial. Ela foi minha aluna de judô. No sumô dá para aplicar luta de solo que aprendemos no judô.
E como começou a trabalhar na Prefeitura, já que você dá aula no Centro Esportivo do Socorro?
Além de lutar, comecei a estudar Educação Física na UMC – Universidade de Mogi das Cruzes. Em 1982 me formei e comecei a trabalhar na Coordenadoria de Esportes, com o Dori Boucalt. Não havia secretaria. Nós trabalhávamos na Rua Júlio Prestes onde hoje é uma creche, bem ao lado do Bar do Piauí, que já existia naquela época. As ligas de futebol, de malha e de xadrez eram tudo lá no prédio da coordenadoria. Na coordenadoria, dava aula de judô, natação, vôlei e ginástica para senhoras. Era polivalente.
Agora são 33 anos de Smel (Secretaria de Esportes e Lazer), são 33 anos de aulas de judô. 
E aula de judô, especificamente, como começou? 
Fui um bom tempo atleta. Aí por causa da idade tive quer parar de lutar no alto rendimento. Parei, mas queria passar o que aprendi para outras pessoas. Em 1987 o judô da Prefeitura contava com dois alunos e o projeto foi crescendo. Para disputar campeonatos, precisava ser filiado a um clube e fizemos uma parceria com a Sociedade do Cocuera. Com os anos, tínhamos mais alunos do que lá no Cocuera. Aí acabou a parceria e fomos para outros clubes. Um ano depois, fomos para a Escola Municipal de Judô Benichi Egochi. O sensei Egochi era da década de 1940, quando dava aula na Cooperativa Agrícola. A associação Egochi ficava na Rua Coronel Souza Franco, sobre a loja de ferragens Horácio de Oliveira. Aí tivemos parcerias com o União, Vila Santista, Associação dos Servidores e mais recentemente Palmeiras. Hoje estamos com a associação Chiao, que é do Shang Can Costa Chiao, um ex-aluno de judô. Nós formamos a Mogi/Smel/Chiao.
Hoje a associação do Socorro leva o nome do sensei Egochi, uma homenagem. Mas desde quando e explique os motivos que levaram a associação do centro de mogi para o Socorro?
Bom, o projeto foi crescendo. E em 1988 conseguimos a sede no centro esportivo, onde está até hoje. Meu pai era vereador e fez a solicitação do espaço para o prefeito Waldemar. Graças a Deus estamos até hoje por lá, uma área de uns 900, 950 metros quadrados.
Fora títulos, prêmios, o que você leva do judô?
Tudo o que aprendi passo aos alunos. E se não atrapalhei o crescimento deles, já estou feliz. Independente de título. Se a pessoa está melhor, indo bem, mesmo que fora do judô, já fico muito feliz, O legal é o reconhecimento. No final do ano temos a nossa festa de confraternização. E nada melhor do que receber ex-alunos, que vêm fazer visita. É o maior prêmio que um professor pode receber é reconhecimento.
Qual a fórmula, porque o judô mogiano é conhecido em todo o Brasil?
O judô mogiano cresceu entre 1978 e 1979 quando Ceya Kuroda, um atleta do Japão, passou a ensinar judô em Mogi. Ele era um grande lutador, mas no Japão ser grande lutador é pouco. O nível lá é altíssimo. Bem, os nossos lutadores eram raçudos, determinados, éramos uns brucutus. Muita força. O Kuroda nos ensinou as técnicas. Perdíamos campeonatos porque não tínhamos técnica. Só na força não dava. Ele ficou dois anos aqui passando ensinamentos para o meu pai (Sethiro), para o Kimura (Yokichi) e o Yoshiteru Onishi – turma antiga e a mais experiente do judô - e deu resultados.
Qual o resultado dos ensinamentos do Kuroda?
Antes do Kuroda, Mogi fazia de um a três judocas para lutar o Paulista. Depois que ele foi embora, passamos a classificar dez judocas para o Estadual. Contra números não há argumentos. A média se manteve e aumentou hoje, dobrando para 20 lutadores - tá certo que existe um número bem maior de praticantes do que naquela época. 
Os resultados levaram Mogi a ter sucesso no exterior?
Tivemos vários atletas de base vencendo campeonatos e se classificando para as seleções Paulista e Brasileira. Mais de 20 alunos da Smel foram campeões de pan-americano. Tive mais de 40 títulos no Campeonato Brasileiro por equipes, como técnico da Seleção Paulista. Conseguimos mandar seis judocas para disputar um campeonato mundial. Marcela Watanabe, Diogo Coutinho, Gabriela Clemente, Aine Schmidt, Andréia Fujino e Fabiano Saji lutaram mundial. Hoje para chegar no mundial precisa vencer Paulista, Brasileiro e Pan-Americano, ter ranking e passar no processo seletivo da Seleção Brasileira. Não é fácil. E todos foram. 
Por causa dos resultados, você já foi técnico da Seleção Brasileira?
Por ter sido campeão por equipes do Brasileiro, fui quatro anos seguidos como técnico convidado da CBJ (Confederação Brasileira de Judô) para sul-americanos e pan-americanos. Estive no pan de Porto Alegre (2009), Panamá (2010), Argentina (2011) e México (2012). Ainda fui técnico na CBDE (Confederação Brasileira de Desportos Estudantil), no Peru (2010), na Colômbia (2011), Brasil/Natal (2012), e em 2014 estive em Angola, nos jogos de países de língua portuguesa.
Tem ideia de quantos alunos você pode ter ensinado, treinado?
Andei fazendo umas contas e acredito que nestes 33 anos de carreira tive uns três mil alunos, por baixo. Fiz uma média de 100 alunos por ano. É um bom número, não?
Dá para o judô de Mogi crescer mais?
Falta apoio para os atletas de base. Falta patrocínio para ajudar nas viagens, taxas de campeonatos, deslocamentos, treinos, alimentação. Aí chega um momento que o judoca deixa Mogi e vai para outro clube. Temos atleta em Bauru, a Aine (Schmidt) estava no Pinheiros e em janeiro vai para o Sogipa em Porto Alegre – tem judoca em Bastos, o Nykson (Carneiro) está no Palmeiras e até a Gabriela (Clemente) foi para o Grêmio União, lá no Rio Grande do Sul. Com apoio, todos poderiam estar defendendo Mogi. 
Qual a sua opinião sobre o nível do judô brasileiro?
O judô brasileiro domina as Américas. Agora precisa crescer mundialmente. Em 2016, no Rio (Jogos Olímpicos), acho que vai ser muito difícil para o Brasil. É preciso melhorar bem a preparação da seleção. Devem pintar umas duas medalhas.

Perfil
NOME - PAULINO TOHORU NAMIE
IDADE - 55 ANOS
NASCIMENTO – MOGI DAS CRUZES
ESPOSA -  REGINA IKUTA NAMIE
FILHAS - RENATA YUMI, LETÍCIA SAYURI E CAMILA AKEMI
FORMAÇÃO – EDUCAÇÃO FÍSICA
PROFISSÃO – TÉCNICO DE JUDÔ
Por: O Diário

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