sábado, 30 de janeiro de 2016

Judocas do Congo se preparam para disputar os Jogos após se refugiarem no Brasil


A história dos judocas Popole Misenga e Yolande Bukasa vai muito além da paixão pelo esporte. Eles encontraram nos tatames a oportunidade de uma vida melhor, longe da guerra civil que assolava o Congo, país de origem. Desde a queda do ditador Joseph Mobutu, o país africano mergulhou em um conflito sangrento. Resultado: milhares de mortes e muitos parentes perdidos.

Em 2013, os dois desembarcaram no Brasil para disputar o Mundial do Rio de Janeiro. Nunca mais voltaram, como explica o técnico Geraldo Bernardes que, em quatro Olimpíadas, foi responsável pela equipe brasileira.

"Após o campeonato de 2013, eles pediram refúgio para ficar aqui no Brasil", diz Geraldo.

Bernardes é coordenador técnico do Instituto Reação, idealizado pelo ex-judoca Flavio Canto. Por conta da origem difícil e do instinto de sobrevivência, Bernardes lembra que Popole e Yolande tiveram dificuldades nos primeiros treinos no Brasil.

"Tive um problema porque quando eles treinavam, queriam sempre vencer. Eles não treinavam por treinar. Diversas vezes jogavam atletas fora da área e os brasileiros não impediam por causa de tanta agressividade", lembra o técnico.

Ele destaca também que os dois foram submetidos a castigos brutais por conta da exigência de vitórias.

"Tinham algumas penalidades. Se houvesse Direitos Humanos, isso não aconteceria. Quando perdiam, eram levados para cela e ficavam presos porque não davam o retorno desejado", conta ele.

Durante meses viveram praticamente como indigentes no Rio de Janeiro. Até que, aos poucos, foram encontrando ajuda e, hoje, estão perto de realizar um sonho: disputar as Olimpíadas.

"Estou esperando para participar das Olimpíadas. Tenho certeza que minha vida vai mudar. Vou conseguir ficar tranquilo no Brasil", desabafa Popole.

É bem verdade que não poderão representar o Congo. Terão que defender a bandeira do Comitê Olímpico Internacional, enquadrados na categoria de atletas sem pátria. O técnico Geraldo Bernardes torce para que a história dos dois sensibilize os dirigentes do COI.

"Acho que seria de grande importância eles terem esse acesso", pede o técnico.

Yolande ainda tem dificuldades com o português. Quando pergunto sobre a relação dela com o esporte, pede ajuda, mas não deixa dúvidas.

"Eu sou apaixonada, não posso parar", diz.

Enquanto os Jogos não chegam, eles se dedicam intensamente aos treinamentos.


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