quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Protocolos de segurança no judô e artes marciais: Um golpe no coronavirus


Com a pandemia de Covid-19, diversos setores da sociedade tiveram que adotar novas medidas de proteção. Com o mundo esportivo, não foi diferente. Na hora da corrida, pedalada e malhação, alguns cuidados extras estão sendo tomados pelos praticantes. Mas o que fazer em caso de esportes de contato físico, como o judô e outras artes marciais? Como se proteger? De acordo com o médico infectologista Victor Castro Lima, no momento atual da pandemia no Brasil, é preciso ser cauteloso no retorno aos treinos presenciais, sendo recomendado evitar, se possível, as práticas esportivas com contato físico, como as artes marciais. Segundo ele, normas essenciais para evitar a transmissão do vírus são difíceis de serem praticadas nesses esportes, o que acarretaria em uma chance alta de contaminação entre os praticantes. Mas algumas medidas podem ser tomadas para minimizar essa chance, como o médico explica, e já há protocolos de segurança sendo adotados em dojos e academias em todo o país.

Se ainda assim as pessoas desejarem praticar esses esportes, o recomendado é que cada praticante tenha contato com o mínimo de pessoas possível e que seja realizada uma triagem dos alunos antes da realização da atividade, pesquisando a presença de sintomas da doença e contato com casos suspeitos ou confirmados. Outra medida que reduziria os riscos seria a testagem rotineira dos praticantes do esporte com exame de PCR, como tem sido feito nos torneios de futebol e basquete, que também têm contato físico, por exemplo - indica o médico.

Protocolos de segurança no Brasil

De acordo com documento da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ), a volta dos treinos com qualquer tipo de contato físico depende da autorização das autoridades legais e de saúde, considerando a situação da pandemia em cada localidade. Sendo assim, a prática de artes marciais pode ocorrer de duas maneiras, a depender do avanço e controle da pandemia em cada cidade ou estado:

Sem contato físico: as aulas deverão ter turmas reduzidas com treinos individuais com base em mobilidade, promovendo exercícios específicos de cada modalidade sem contato ou treino físico, como exercícios aeróbicos e exercícios com bonecos. Além disso, é recomendado que o treino seja desenvolvido em uma área com medidas regulamentadas pelas autoridades legais e de saúde, sendo importantes destacar que o aluno não deverá acessar outras áreas durante o treino;

Com contato físico: os treinos poderão ser realizados entre grupos de dois a quatro alunos, os quais devem ser formados com base no critério de proximidade, como um grupo de pessoas que já estejam convivendo em uma mesma rotina, por exemplo: mesma família, pessoas que moram juntas, trabalham juntas ou situações similares. O distanciamento indicado como seguro pelas autoridades sanitárias devem ser respeitados entre os grupos de alunos. As orientações para a realização do treino com contato físico são: permanecer em grupos fixos, treinar sempre nos mesmos dias, com as mesmas turmas, sempre entre si e sempre na mesma área do tatame, visando limitar um potencial contágio entre diferentes turmas de alunos.

Aulas de artes marciais contam com distanciamento físico no Brasil, seguindo protocolo de segurança das autoridades de saúde — Foto: Judô RS

No início da pandemia, a maioria dos clubes e academias do Brasil implementou aulas on-line com horários divididos entre categorias infantil, adulta e federada. A fim de manter os alunos ativos em suas modalidades, o período da quarentena pôde dar ênfase para as partes de movimentação e posicionamento correto das posturas, trabalhando também o movimento técnico dos golpes. Mas, com o passar do tempo, a expectativa para voltar aos treinos presenciais foi aumentando. Com isso, surgiu a necessidade de adotar novas medidas de proteção. O instrutor de artes marciais Ricardo Soares, proprietário da escola Judô RS, que tem unidades no Brasil e em Portugal, cita quais protocolos foram adotados em sua academia de acordo com exigência do governo local:

- No Brasil, seguindo os protocolos exigidos pelas autoridades de saúde, verificamos a temperatura corporal de todos os alunos antes de iniciarmos as aulas, passamos álcool em gel no início e durante as aulas, separamos os alunos em pequenas "ilhas" demarcadas no tatame, estipulamos um intervalo entre as aulas para realizar a sanitização do tatame e evitar o encontro entre as turmas que terminaram suas aulas e as que irão iniciar, além de realizamos aulas ao ar livre sempre que possível e exigir o uso da máscara - aponta o profissional.

Pelo protocolo e faseamento atual, Ricardo explica que as aulas ainda não estão tendo contato físico entre os alunos. Portanto, nesse momento, realizam treinos físicos, técnicos e funcionais, com distanciamento físico, voltados para o judô, modalidade que conta com um leque grande de atividades que podem ser abrangidas, o que facilita a continuidade dos treinamentos em segurança.

Cuidados com o público infantil

Professor responsável pelo judô no Marina Barra Clube e presidente da Associação de Judô Veteranos do Rio de Janeiro, Daniel Garcez aponta que, apesar do sucesso da implementação das aulas on-line para o público infantil, é difícil manter a criançada entretida nas aulas nesse novo molde, ainda mais depois de tanto tempo.

- Fizemos algumas aulas teóricas com apresentações, vídeos, história do judô, entre outros assuntos para não deixarmos a teoria no esquecimento. Em muitas aulas, fizemos diversas adaptações, como treino dos golpes com cadeira, vassoura e travesseiros. Diversos materiais eram utilizados para mantermos o foco dos alunos e também o interesse nas aulas, pois esse era o nosso maior desafio; afinal, com as aulas escolares também on-line, o tempo no computador aumentou e isso poderia ser um motivo para afastar ainda mais os alunos das aulas virtuais - conta o profissional.

No início de agosto, conforme o plano de retomada da prefeitura do Rio de Janeiro, os treinos presenciais voltaram, mas ainda sem contato físico entre os alunos. De acordo com Daniel, o clube está mantendo mesmo nas aulas presenciais a didática das aulas on-line, inclusive fazendo a transmissão do treino presencial para os alunos que preferiram permanecer com o treinamento à distância, pela internet.

- Estamos seguindo todos os protocolos de segurança da prefeitura e também incluímos outros protocolos específicos do judô, seguindo toda a orientação da Federação de Judô do Rio de Janeiro (FJERJ). Estamos com agendamento das turmas, ou seja, só participa dos treinos quem estiver agendado nos horários disponíveis para cada faixa etária e nível de judô. Dessa forma, evitamos aglomeração, pois estamos com limite de até dez alunos por horário nesse momento. Para atendermos a todos, fizemos uma adaptação dos horários, reduzindo o tempo de aula - informa o instrutor de judô.

Protocolos de segurança adotados:

Utilização de máscara (os alunos estão instruídos a tirarem o item apenas para beber água ou caso se sintam desconfortáveis);

Medição de temperatura;

Higienização dos calçados (tapete de sanitização);

Sacola para guardar os calçados;

Higienização dos pés e mãos com álcool 70%;

Direcionamento dos alunos para uma área específica;

Área de aula com ventilação natural e presença apenas de alunos e professores;

Intervalo de 30 minutos entre uma turma e outra para realizar a higienização do tatame.

Além disso, cada aluno possui uma área de 4 m², respeitando o distanciamento físico entre um aluno e outro. Nesse espaço, cada aluno tem um borrifador com álcool 70% também. Ao fim da aula, as crianças recolhem seus pertences e colocam o calçado apenas em um local próximo a saída.

- Estamos dando bastante ênfase na movimentação e em diversos exercícios que estimulam o equilíbrio e a coordenação motora, os quais ajudarão bastante no desenvolvimento das técnicas de judô. Fazemos também o treinamento de sombra (tendo-ku-reshyu), que é o movimento do golpe sem um oponente e, a partir disso, vamos corrigindo os movimentos informando o que pode ser melhorado. Dessa forma, acreditamos que os alunos irão manter a qualidade na execução dos golpes. Além disso, com o uso de materiais nas aulas, como cadeira, vassoura e boneco de treino, fazemos com que os alunos também usem a criatividade durantes as aulas. Vale ressaltar que o uso da máscara segue as instruções dos órgãos competentes e, caso seja liberado treinamento sem o item, os pais serão consultados, pois podemos, inclusive, realizar turmas com máscara e sem máscara para que ninguém fique desconfortável ou de fora - explica Daniel Garcez, contando que os profissionais da academia ensinaram às crianças como fazer seus próprios bonecos de treino, para que cada um tenha o seu.

A experiência da Europa

Segundo Ricardo Soares, na Europa, especificamente Portugal, onde ele tem academia, foi e está sendo mais simples seguir os protocolos de segurança do que no Brasil, pois as determinações do governo em relação à abertura das fases são válidas para todo o país, quanto no Brasil varia de estado para estado. E a experiência de países que passaram por isso antes pode ajudar. Ele conta que, aos poucos, em Portugal foram liberadas as aulas ao ar livre em grupos de até dez pessoas e, depois, em grupos de até 20 pessoas. Com taxa de contágio bem mais baixa nesse momento, a flexibilização aumentou e o governo português já autorizou o retorno dos treinos dentro das academias e a prática com contato físico.

Os protocolos adotados aqui contaram com aulas ao ar livre, divisão dos praticantes em ilhas, medição da temperatura corporal e utilização de álcool em gel. Além disso, os alunos já chegam trocados (vestidos com o quimono) de casa, os pais não podem assistir aos treinos dentro do espaço esportivo e os vestiários não podem ser utilizados para banho. Agora (com a flexibilização), o que muda é que os praticantes já podem treinar com contato físico. Porém, procuro separá-los em grupos fixos de quatro ou cinco alunos, para terem contato com o mínimo de pessoas possível. Dessa forma, caso algum aluno contraia o vírus, apenas o grupo do qual ele fazia parte precisará ser isolado - explica o instrutor de artes marciais.

A principal diferença dos protocolos dos treinos no Brasil em Portugal se dá, segundo Ricardo, em relação ao uso da máscara. Lá, a Direção Geral de Saúde (DGS) de Portugal não recomenda o uso do item durante a atividade física. Portanto, os alunos chegam com suas máscaras, mas as retiram para treinar, colocando-as de volta somente na hora de ir embora.

Ricardo ainda conta que, nesse momento, Portugal está em período de férias escolares; portanto, a maioria das academias de judô está parada, mas os protocolos de segurança das escolinhas e academias já estão bem ajustados para o retorno das férias em setembro. Na Europa, apenas o judô de alto rendimento está com treinos nesse período, e a previsão de retorno das competições está para setembro.

Dicas de proteção

Dado o alto risco de transmissão do vírus nos esportes de contato físico, o infectologista Victor Castro aponta que é preciso seguir algumas recomendações para se proteger em tempos de pandemia. De acordo com ele, a principal dica é avaliar a possibilidade de praticar um esporte que não exija contato físico, pelo menos nesse momento. Para o caso de esportes como as artes marciais, organizar o retorno é essencial. Pensando nisso, o médico passou algumas orientações:

A lavagem da roupa esportiva, com água e sabão, e demais acessórios, com álcool 70%, deve ser realizada logo após o treino;

Deve-se evitar usar a roupa repetidas vezes após contato físico com outra pessoa, dado o risco de o vírus poder ficar na vestimenta;

Garanta que a sua escola, academia ou grupo de esportes siga as medidas de proteção recomendadas pelas autoridades de saúde;

No caso das artes marciais, recomenda-se que cada praticante tenha um parceiro único por dia de treino;

Antes de começar o treino, pergunte se a pessoa está com algum sintoma atrelado à Covid-19 ou se teve contato nos últimos dias com alguém que apresentava sintomas da doença ou estava contaminado;

Se possível, realize testes PCR de rotina para os alunos da sua academia;

Higienize frequentemente as mãos, use máscara e continue seguindo as medidas de distanciamento social fora do momento do treino.

Por Marina Borges, para o Eu Atleta — Bauru, São Paulo
Foto: Gustavo Silva/Judô RS

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