quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

De pai para filha: um amor pelo judô que atravessa gerações da família Mendes


Um pai passa diversos ensinamentos para seus filhos, desde tarefas simples como amarrar o cadarço até lições que vão ser úteis por uma vida inteira. O que você aprendeu com seu pai? Essa é uma pergunta com milhares de respostas possíveis. Mas, para Sarah Mendes, uma delas se destaca: o judô. A gauchinha de 14 anos é primogênita de Moacir Mendes Júnior, ex-atleta da Seleção Brasileira de Judô, e teve o grande amor pelo esporte passado naturalmente de pai para filha.

Na última sexta-feira (02), Sarah foi campeã da categoria ligeiro (-44kg) na Seletiva Nacional Sub-18. Na área reservada para os técnicos das mais de 200 atletas competindo no dia, uma figura masculina com as cores da Sogipa se destacava a cada vez que o sobrenome Mendes surgia nos placares. Mesmo não tão perto do tatame, Moacir era ouvido e atendido pela filha, que colocava em prática tudo o que aprendeu em seus 12 anos de judô.

“Meu pai sempre esteve comigo em todas as minhas competições, então é muito importante ter a presença dele. Me deixa com mais força de vontade para ganhar e alcançar meus objetivos”, resumiu Sarah, refletindo nas palavras a objetividade com a qual finaliza seus combates.

Ela começou no judô aos dois anos, na academia do pai, em Canoas, no Rio Grande do Sul, até chegar à Sogipa, um dos mais tradicionais dojôs de Porto Alegre, repetindo o caminho de Moacir. Para ele, ver a filha onde está é uma sensação de dever cumprido.

“Eu estava até brincando com outros técnicos na arquibancada que tem duas opções: ou tu fica em casa e fica sabendo das notícias ou vem pra cá e sofre, porque não tem como não sofrer, né? Eu sofro desde o início com as lutas dela e foi a mesma coisa com meus sobrinhos, que lutaram ontem. Tenho vídeos deles pequenos de quimono e hoje vê-los competir em uma Seletiva Nacional é uma sensação de dever cumprido. Ainda tem muita coisa boa pela frente, claro, mas até aqui sinto que consegui fazê-los entender o que o judô proporcionou para a minha vida e tentei fazê-los viver essa atmosfera. Não foi imposto que deveriam competir, isso partiu deles. E eu sempre falei: ‘vou incentivar e ajudar vocês o máximo que eu puder’”, explicou. 

Sarah está em seu último ano na classe Sub-15. Em 2022, colecionou uma série de medalhas de ouro e, logo em sua primeira participação na Seletiva Sub-18, levou o título de campeã para casa. Para isso, venceu quatro lutas. E o que todas elas tiveram em comum? Muito trabalho no solo, não por acaso. 

“Meu pai é técnico de ne-waza, então ele me ajuda muito nessa parte. Em todas as minhas lutas, acho que tentei fazer a parte no chão que treino com ele”, contou Sarah.

Em 2012, Moacir foi eleito o melhor judoca do mundo em ne-waza e até hoje é uma referência. Depois da aposentadoria no esporte, tornou-se técnico da Sogipa, contribui frequentemente com a Seleção Brasileira e lapida o chão de ídolos gaúchos como Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, além de dar aulas de judô e jiu-jitsu em sua própria academia.

“A gente tenta fazer com que ela [Sarah] seja o mais completa possível. Ela tem a parte do treino na Sogipa, com a parte do tachi-waza, de lapidar a parte de pé, e eu fico com o ne-waza. Através do ne-waza e do jiu-jitsu, que a Sarah também pratica desde muito pequena, a gente vai conseguindo juntar as coisas. Ela é Sub-15 ainda, então acho que tem muita coisa boa pela frente”, projetou Moacir.

Por muitos anos, era ele quem sentava no coach box durante as lutas da filha. Mas, a situação mudou após um pedido da própria.

“Com 11 anos, a Sarah chegou e me pediu para não sentar mais na cadeira para ela. Isso foi uma coisa que bateu forte em mim, mas parei para pensar e vi que meu nervosismo estava fazendo mal para ela. Então, agora fico na arquibancada, de longe, e vejo que desde novinha ela teve maturidade para analisar isso. Eu me sinto muito orgulhoso em ver que a sementinha que plantei está florescendo”.

Durante toda a competição, Moacir não fez questão de esconder o suporte que dá à filha. Mesmo da arquibancada, dava orientações a todo momento e comemorava cada vitória como se fosse uma final. 

“Estar aqui é uma sensação horrível (risos). Vou falar para os pais que estão pensando que é uma maravilha: não é! É uma coisa que a gente não consegue dominar. Não sou mais eu que estou ali lutando. Quando eu lutava, eu dominava minhas ações, revirava luta, quando perdia, sentia frustração. Agora estou em uma posição onde preciso ser expectador. O máximo que posso fazer é torcer”, finalizou.

Por: Assessoria de Imprensa da CBJ

Foto: Anderson Neves


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