terça-feira, 2 de setembro de 2014

Judô Infantil: O descortinar de uma nova cultura


Em continuação ao artigo anterior, cujo tema central foi o primeiro contato da criança com o tatame, torna-se imperativo explanar acerca da etiqueta presente no Judô, onde tais costumes (etiqueta) podem ser considerados como fatores invariantes da arte. O termo fatores invariantes será aqui apresentado no sentido de elementos sem os quais descaracterizariam o Judô. Como amplamente difundido e muito bem fomentado dentro do imaginário popular, o Judô, bem como qualquer arte marcial oriunda do Japão é cercado de inúmeros costumes e tradições que para nós, ocidentais, podem “parecer” estranhos ou desconjuntados. 

Ao apresentar à criança essa “nova” cultura, estamos aumentando o constructo, afinal de contas, acreditamos que uma das coisas que tornam o Judô uma arte atraente é a disciplina, o respeito e a cooperação, além, é claro, o desenvolvimento das habilidades motoras. Para que esse contato com a “nova” cultura se torne eficiente e efetivo é necessário explorar o significado de tais tradições, portanto além da simples reprodução, essa forma de pensamento, de reprodução, tende ao longo dos tempos estagnar e até extinguir a prática de alguns costumes. De maneira análoga é como ler um texto em italiano sem saber falar o italiano, sabemos apenas o que cada símbolo (letra) significa o som que elas produzem, no entanto o significado das palavras se torna obscuro, seria apenas pronunciar algo sem o menor sentido inviabilizando qualquer tipo de comunicação. Isso demonstra o “risco” de reproduzir algo sem conhecer o significado, podemos de certa sorte, acreditar que tais valores não fazem sentindo e por fim acabar por abandonar ou vulgarizar.

Sabemos que o Rei-ho é parte fundamental da ritualística do Judô, amplamente utilizado, se pensarmos com a mentalidade oriental, estamos em fronte à uma demonstração de sinceridade, respeito, gratidão, confiança então de posse  desses sentimentos o curva-se ganha uma conotação diferente. Em contrapartida se pensar com a mentalidade ocidental, o curva-se ganha a conotação de submissão, passividade, inferioridade, tem como exemplos desse significado diversos ditos populares: “Jamais abaixe a cabeça na derrota”; “Abaixe essa crista (cabeça)”; dentre outros. Esse fenômeno demonstra o “choque” de diferentes culturas. Sob o ponto de vista e contexto do Judô qual é o conceito mais adequado? Parece meio óbvio a resposta, mas utilizando o conceito de maneira errônea pode mudar totalmente a simbologia que o gesto tem, dando significados divergentes aos propostos pelo mestre Jigoro Kano, o que torna importante transmitir  para as crianças o real conceito, significando assim gesto que elas realizam. Não podemos “cair” no erro de apenas ensinar o golpe de maneira exata, a etiqueta é componente essencial para o ensino e aprendizagem do Judô. Cabe ao professor envolver os jovens iniciantes com a aura presente no Judô e imergi-la na rica e vasta cultura japonesa.

Por: Fernando Ikeda

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