Chegou a hora de Maria Portela pendurar o quimono. Aos 35 anos, a judoca decidiu concluir sua carreira competitiva e mirar novos desafios fora das competições. Foram 15 anos dedicados à seleção brasileira, com três participações olímpicas, dezenas de medalhas no circuito mundial e uma década entre as melhores do mundo no peso médio feminino (70kg). “Eu vivi muito intensamente a minha carreira como atleta de alto rendimento e chegou o momento de encerrar essa etapa. Não ter conseguido o resultado no último Mundial, depois passar por lesões, cirurgia, os altos e baixos, enfim, um conjunto de situações que foram me levando a tomar essa decisão. Agora, eu vejo que preciso botar a faixa branca de novo e viver novos desafios”, explica Portela.
Os planos para o futuro já estão sobre a mesa e Maria garante que não vai se afastar do judô. O esporte transformou sua vida, lhe deu oportunidades e ela entende que é hora de retribuir e compartilhar tudo o que aprendeu nos tatames.
“Eu tenho muito a aprender, mas não quero sair de tudo o que esporte me proporcionou. Como atleta, é um dever repassar isso. Eu me vislumbro uma treinadora, por exemplo. Fiz, recentemente, um curso em coaching, uma mentoria que vai trabalhar as questões emocionais porque eu vivi esse processo como atleta, de saber como resolver os problemas internos para performar. Estou pronta para os desafios e muito motivada para o desconhecido. Isso me traz a certeza de que concluí o ciclo como atleta de alto rendimento”, conta.
Ciclo que se fecha com a judoca ainda entre as melhores do mundo mesmo sem competir desde dezembro de 2022, quando lutou o World Masters, em Jerusalém, sua última competição oficial pela seleção. Portela para como a melhor brasileira ranqueada no 70kg, ocupando a 13ª colocação a pouco mais de um ano para os Jogos de Paris. Mas, ela acredita que a categoria está bem encaminhada internamente com a nova geração chegando forte.
“Eu assisti à Ellen em Paris e torci por ela. O caminho está aberto, elas podem buscar essa vaga olímpica. Isso me trouxe tranquilidade. Mas, eu quero deixar claro para as pessoas que eu não estou desistindo, eu entendi que, para mim, o que entreguei até hoje está ok”, reflete.
Sabemos que o que Maria Portela fez com o judogi da seleção e da Sogipa, clube que defende desde 2010, foi muito mais do que “ok”. Sair de um projeto social de Santa Maria (RS) e tornar-se número um do mundo num esporte tão competitivo como o judô é algo de extraordinário, raro. Agora, o que ficam são as lembranças dessa jornada, dos momentos vitoriosos e daqueles que deixaram um grande aprendizado.
“As experiências olímpicas foram muito marcantes, tanto o mais dolorido, que foi Londres, quanto o que me trouxe a satisfação de dever cumprido, que foi Tóquio. Mas, o título do World Masters, pela forma como eu conduzi aquele dia, como eu controlei as emoções, foi muito marcante. O bronze no Grand Slam de Tóquio também, por ser o Grand Slam de Tóquio e por ter me dado ali a classificação para os Jogos do Rio”, enumera.
Maria Portela é sinônimo de garra, de determinação, de perseverança, de vibração, características que lhe renderam a alcunha de Raçudinha dos Pampas. Na seleção, ocupou lugar de liderança, sendo a capitã da geração mais vitoriosa do judô feminino do Brasil. Era dela, por exemplo, a responsabilidade de puxar o grito de guerra da equipe antes dos combates.
Seu legado para o judô brasileiro é enorme e suas conquistas seguirão inspirando novas gerações de atletas por muitos anos.
A CBJ agradece e parabeniza Maria Portela pela carreira brilhante, NOTA DEZ!
MUITO OBRIGADA, PORTELINHA!
PERFIL
Nome completo: Maria de Lourdes Mazzoleni Portela
Nascimento: 14/01/1988 - 35 anos
Nascimento: Júlio de Castilhos - Rio Grande do Sul
Início no judô: 9 anos, no projeto social Mãos Dadas, em Santa Maria, com a sensei Aglaia Pavani
Clubes: Projeto Futuro (SP) e Sogipa/RS (2010 - 2023), além de representar as cidades de Florianópolis e Joinville em competições regionais
Técnico atual no clube: Kiko Pereira
Participações olímpicas: Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020
Participações em Jogos Pan-Americanos: Guadalajara 2011 e Toronto 2015
Participações em Mundiais: Roterdã 2009, Tóquio 2010, Paris 2011, Rio 2013, Astana 2015, Budapeste 2017, Baku 2018, Tóquio 2019, Budapeste 2021 e Tashkent 2022.
Principais títulos:
- Ouro World Masters São Petersburgo 2017
- 2 medalhas em Mundiais por Equipes Feminina (1 prata e 1 bronze)
- 3 medalhas em Mundiais por Equipes Mistas (1 prata, 2 bronzes)
- 7 medalhas em Campeonatos Pan-Americanos (2 ouros, 3 pratas e 2 bronzes)
- 2 medalhas em Jogos Pan-Americanos (bronzes em Toronto/2015 e Guadalajara/2011)
- 11 medalhas em Grand Slam (t3 ouro, 3 pratas e 5 bronzes)
- 10 medalhas em Grand Prix (2 ouros, 3 pratas e 5 bronzes)
- 13 medalhas em Continental Open (1 ouro, 7 pratas e 5 bronzes)
- Tricampeã Mundial Militar (Rio de Janeiro/2011, Astana/2013 e Mungyeong/2015)
- Número 1 do Ranking Mundial IJF 2018