terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Opinião: Judô na escola, uma breve abordagem


O objetivo deste texto é desenvolver e desmistificar algumas situações que cercam a prática do Judô nas escolas, e contribuir para que tal atividade seja cada vez mais comum, bem trabalhada e difundida, com o objetivo de agregar valor e fornecer uma ferramenta essencial na formação das crianças pelos seus pais e pela escola.           

Atuo ensinando Judô em escolas há 20 anos (18 deles em um dos Colégios mais importantes, tradicionais e respeitados de São Paulo) e sinto que há uma certa necessidade em discorrer sobre o tema, para que seja entendido o verdadeiro sentido desta modalidade inserida no ambiente escolar (seja como como curso extra, seja dentro da grade horária letiva). No Japão, o Judô é uma “matéria” nas escolas e a preocupação lá é formar seres humanos melhores, não atletas campeões. Sigamos este exemplo.

Não querendo me alongar sobre o conceito e objetivo do Judô, é impossível não reconhecer na educação, respeito, disciplina, comprometimento e constante estudo, pilares que fundamentam absolutamente a modalidade pensada por Jigoro Kano (fundador do Judô, e “pai” da Educação Física no Japão). Posto isso, é justamente daí que se deve partir o entendimento e busca do que conquistar e trabalhar nas aulas.

Refutando absolutamente o jargão “Judô de Escola”, imputando a isso algo pejorativo, “relaxado”, fazendo alusão à brincadeira e uma aula onde tudo é válido é fundamental ter a noção que aula de Judô é aula de Judô. Seja ela no Dojô (Academia), clube, escola, parque, etc. Respeitando logicamente a estrutura de cada local, a aula deve SEMPRE ter os elementos  acima citados como princípio norteador da mesma.

Mais que em qualquer lugar, é justamente no ambiente escolar que tais conceitos devem ser trabalhados incessantemente com os alunos, pois justamente vão ao encontro do que pretende a direção de uma escola preocupada em formar alunos educados, solidários, disciplinados e com ampla noção de respeito ao próprio ambiente. O Judô DEVE servir como uma ferramenta indispensável no auxílio de pais e professores na construção do caráter das crianças, e para tanto é preciso que ele seja completo, inteiro; como idealizou o Professor Kano.  Adaptações nas aulas e suas práticas (por ser “de escola”) que afrontam diretamente conceitos primordiais do significado do Judô é justamente o maior contra senso possível, pois além de manchar a modalidade, não assiste pais, professores e direção pedagógica na questão da educação integral.

Fazendo sempre um paralelo do Judô com a vida (e neste caso a vida escolar), é condição sine qua non associar o RESPEITO que cada aluno tem pelo dojô (neste caso, o local onde o tatami está na própria escola) fazendo uma reverência ao entrar e sair deste com todo o ambiente escolar; associar a EDUCAÇÃO que cada aluno tem a se dirigir a seu (sua) Sensei  (professor de Judô) e colegas de treino (sempre pedindo “por favor” e dizendo “obrigado” ao final) com seus professores, pais  e colegas de classe; associar a DISCIPLINA que cada aluno pratica dentro das aulas (lugar na fila de acordo com a graduação, pedir para ir ao toalete, organizar os próprios pertences antes de entrar no tatami) com a postura em sala de aula e em casa; associar o COMPROMETIMENTO que cada aluno tem nas aulas buscando a evolução técnica com a assiduidade necessária nas aulas e atividades escolares; associar o constante ESTUDO que cada aluno se submete para poder realizar com qualidade os exames de faixa da modalidade e nela poder progredir com a importância do estudo em sala de aula e por toda a vida para poder conquistar aquilo que se almeja.

Assim como na sala de aula, o tatami precisa de profissionais que acreditem nessa transformação. Não há como pensar em Judô na escola se o objetivo principal não for incutir os alunos o essencial deste modo de vida. Diferente das outras atividades esportivas, nesta temos o “dô”, e ele significa um caminho, um viés, uma maneira de ser e agir. Apliquemos totalmente em benefício de pais, professores e direção pedagógica; na escola. Não há nada mais gratificante para um Sensei que escutar de pais e/ou professores que “fulano melhorou muito após entrar no Judô”. Que façamos disso uma frase recorrente. Que promovamos o Judô.

Por fim - e não menos importante - é preciso pontuar que a ínfima parte dos alunos (talvez nenhum) serão atletas de alto rendimento, muito menos competidores talentosos ou até um primor técnico na modalidade, mas todos – absolutamente TODOS – têm condição de serem JUDOCAS. Essa deve ser a busca; sempre.

Deste modo nós professores de Judô estaremos contribuindo muito com a sociedade ao fornecer às instituições de ensino ferramentas com as quais elas possam contar na promoção de uma melhor condição educacional para seus alunos e satisfação dos pais.         

Por: Vinícius Erchov – Faixa Preta 5º Dan 
Formado em História, Educação e Letras pela USP, Tri Campeão Mundial, Portador do diploma de eficiência técnica outorgado pela Kodokan (Japão), Professor do Colégio São Luís Professor e Presidente do Projeto Budô.


Um comentário:

  1. SENSEI fantástico. Faço votos que muitos judocas tenho acesso à sua matéria, principalmente aqueles que militam em escolas infantis de todo Estado de São Paulo e principalmente nas periferias desse nosso Brasil. Arigato.

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