Depois de 30 anos dedicados ao judô, o meio-pesado da
seleção brasileira e do Minas Tênis Clube, Luciano Corrêa, anunciou nesta
segunda-feira, 04, sua aposentadoria dos tatames. Campeão mundial em 2007 e
representante do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e Londres 2012, o
brasiliense encerra sua carreira competitiva aos 35 anos de idade.
Sua trajetória no esporte começou aos quatro anos, quando
deu os primeiros passos no dojô em Brasília, sua cidade natal. Aos 16, Luciano
foi integrado à equipe do Minas e aos 19 sagrou-se campeão pan-americano Júnior
(Sub 20), em 2001, ano em que também venceu a seletiva nacional e entrou para a
seleção principal do Brasil.
Foram 16 anos servindo a seleção e inúmeros títulos
conquistados: é tricampeão brasileiro, tricampeão dos Jogos Mundiais Militares,
bicampeão do Campeonato Pan-Americano, bicampeão dos Jogos Pan-Americanos,
multimedalhista em etapas de Open, Copa do Mundo, Grand Prix e Grand Slam do
Circuito Mundial da FIJ, bronze no Campeonato Mundial do Cairo, em 2005, e
campeão mundial no Rio, em 2007.
Força, superação, raça, espírito de equipe e liderança são
características que sempre acompanharam Luciano Corrêa em seus combates e que,
assim como suas conquistas, ficarão como legado de sua bela trajetória no
judô.
Arrasta, Luciano!
Leia abaixo a carta de despedida de Luciano Corrêa:
"Encontrar as palavras certas pra falar sobre essa
decisão é algo difícil e amedrontador ao mesmo tempo. O judô entrou na minha
vida de uma forma arrebatadora, tudo relacionado a esse esporte é apaixonante.
E mesmo hoje, quase 30 anos após ter iniciado minha carreira na academia
Ivanez, o que sinto é igual ou ainda maior. Após meu primeiro campeonato
brasileiro em 1992, acompanhado do meu melhor amigo e incentivador que é meu
pai, eu disse que meu maior sonho era ser campeão mundial de judô e medalhista
olímpico. Nenhum de nós dois fazia ideia do que seria necessário ser feito pra
atingir ou se existiria alguma chance, o que tínhamos no coração era um sonho.
E a ele, minha mãe Antônia, minhas irmãs Jeane e Viviane que escrevo nesse
momento: nada seria possível sem vocês. Obrigado por todos os momentos vividos
que não me cabe descrevê-los aqui.
Comecei minha jornada na minha cidade Natal em Brasília,
aos 16 fui convidado pelo sensei Floriano Almeida para ingressar a equipe do
Minas Tênis Clube, entidade que represento há 17 anos e me proporcionou toda
estrutura necessária para que meus sonhos enquanto atleta de judô pudessem ser
alcançados, se tornou uma família e faz parte de mim. Fiz dentro do Minas,
amizades que guardo no coração, memórias inesquecíveis da antiga geração,
tantos irmãos que me auxiliaram e me mostraram como a prática do judô vai muito
além das disputas no tatame.
Meu tio Marcos e minha Tia Janda, que receberam aquele
adolescente cheio de sonhos e ansioso pela liberdade que passou a ter: meu
muito obrigado.
À Sara, que me ensinou ainda cedo que o amor perdura além
dessa vida, eterna saudade. Ao staff do MTC . A todos vocês que fizeram parte
de meu convívio e trajetória no esporte: minha eterna gratidão.
Aos meus companheiros de seleção, quantos momentos
inesquecíveis: comemoração das vitórias e ombro amigo nas derrotas. Meu
padrinho de casamento Leandro Guilheiro, acompanhei de perto sua jornada, e um
dos momentos que nunca esquecerei: sua persistência e força, lutando não apenas
contra os adversários, mas contra lesões do corpo pra conquistar a merecida
segunda medalha olímpica em Pequim.
Quatro anos antes, tive a honra de torcer e assistir meu
irmão Flávio Canto conquistar sua medalha olímpica. João Derly, nosso bi
campeão mundial de judô e Tiago Camilo, que honra poder ter conquistado uma
medalha pro Brasil no mesmo mundial que vocês. Mário Sabino, Leonardo Leite,
Renan Nunes,Hugo Pessanha, Rafael Buzacarini, companheiros de categoria; me
faltam palavras pra agradecer os ensinamentos e motivação que vocês me
proporcionaram. Não fosse pela respeitosa rivalidade, eu não teria persistido.
Obrigado e sucesso aos que seguem lutando por seus sonhos, estarei a partir de
agora, torcendo do outro lado do ginásio.
Agradeço a todos da Confederação Brasileira de Judô, que
represento com orgulho desde 2001, por todo trabalho duro e empenho nas
conquistas do judô brasileiro. Paulo Wanderley,Silvio Acácio, Ney Wilson, Luiz
Juniti Shinohara, Fúlvio Miyata e toda equipe, vocês fazem parte de cada
medalha conquistada por cada um de nós.
Às guerreiras do judô feminino do Brasil, desde Fabiane
Hukuda, Rosicleia, Priscila, Ednanci, Dani Zangrando e tantas outras que
abriram portas pra que em 2008 Ketleyn Quadros conquistasse a primeira medalha
olímpica do judô brasileiro. Sarah, Mayra, Rafaela,Erika, vocês são heroínas,
são motivos de orgulho pra todos os judocas e toda nação.
Por falar em heróis, como não citar meu maior ídolo
Aurélio Miguel, que tietei pela primeira vez em 1988, e até hoje faço questão
de reverenciá-lo; obrigado por seu exemplo, sua entrega e conquistas pro
país.
Ao Exército Brasileiro, que pude servir por oito anos com
honradez, compreendendo a grandiosidade de vestir a farda verde oliva e ter
muito orgulho do meu país. Rauno Símola e André Fernandes, será impossível pra
mim expressar a gratidão que tenho pelo apoio a mim ofertado nos momentos mais
difíceis e cruciais de minha carreira.
São infinitas as lições aprendidas com o judô, por isso,
nunca serei um ex atleta, está impresso dentro de mim os valores aprendidos
através do esporte, e são eles que irei carregar pro resto da vida, onde quer
que ela me leve.
Tenho consciência e gratidão por tudo que o esporte me
proporcionou, e meu desejo, é que essas lições e oportunidades sejam ofertadas
a mais e mais jovens desse país, e é através do Esporte sem Fronteiras que
busco, humildemente, retribuir tudo que a modalidade me proporcionou.
E minha amada esposa Joanna Maranhão, que conheci em
2009, por toda compreensão, companheirismo e amor a mim dedicados. Obrigado por
me ensinar que vale a pena enfrentar e persistir, que vale a pena lutar pra
promover sementes de mudança no mundo, por buscar a todo instante melhorar a si
mesmo, por todo incentivo nos momentos cruciais e difíceis da jornada,
principalmente agora, por toda paciência e longas conversas para chegarmos
juntos a decisão que o momento da transição chegou. Meu amor sem palavras pra
descrever seu apoio incondicional, eu te amo.
Finalizo essa carta na certeza de que tudo fiz para
alcançar meus objetivos, aos amantes do Judô e toda torcida Brasileira, quem me
dera fosse possível proporcionar mais momentos de alegria através do esporte,
obrigado a cada um de vocês, pela compreensão e apoio nos tristes, porém,
necessários momentos de derrotas. Sigo a partir de agora lutando fora do tatame
pelo Judô Brasileiro.
Atenciosamente e carinhosamente,
Luciano Corrêa"