O Judô hoje, 09 de março de 2017, está mais uma vez triste. Faleceu, aos 85 anos, o professor kodansha 6º dan Stanlei Virgílio, da cidade de Campinas. Falar do professor Stanlei é falar de uma parte da história do judô. Parte dessa história feita por ele e outra parte da história escrita por ele.
Grande parte da motivação e inspiração que hoje tenho para escrever e divulgar o judô vem de duas pessoas que hoje já não estão mais conosco: Carlos Cunha e Stanlei Virgílio. Ao Cunha, meu respeito pelos seus textos objetivos, ora até contundentes e boa escrita com técnica apurada pela sua profissão de jornalista. Já Stanlei, tinha uma linha editorial direcionada para a história do judô em tempos mais remotos. Tinha prazer em pesquisar. E isso rendeu um grande legado histórico e valioso para o judô.
Em 09 de agosto de 2013 fiz uma visita ao sensei Stanlei para uma entrevista que publicaria na revista Spirit of JUDO, cujo material, em forma de homenagem, replico na íntegra neste post:
Escrever em
poucas linhas sobre um judoca que muito escreveu sobre o judô é uma tarefa tão
difícil quanto injusta. Stanlei Virgílio, 81 anos, mestre kodansha 6º dan,
possui uma habilidade em escrever, uma de suas paixões, equiparado ao quanto
gosta, fez e faz pelo judô. É talvez o judoca que mais publicou livros
específicos sobre o assunto, cuja literatura há alguns anos era escassa.
Ferrenho defensor de uma padronização pedagógica no ensino do judô, Stanlei
sempre estudou, pesquisou, perguntou e escreveu sobre o judô. E com muito
capricho e dedicação, publicou sete livros sobre o judô, um livro sobre a
mecanização agrícola no Brasil, assunto que muito entende por ter trabalhado
por muitos anos nesta área, e uma auto biografia, lançada este ano.
E não pensem que
o professor Stanlei parou por aí. Ele está desenvolvendo mais um projeto
literário, um livro sobre ne-waza, onde além de explicar minuciosamente todas
as posições de imobilização, com fotos detalhando cada movimento, Stanlei conta
também histórias sobre o desenvolvimento do ne-waza e presta uma homenagem,
neste livro, às mulheres judocas. Tanto que as fotos com os movimentos estão
sendo feitas com duas alunas suas.
Natural de Rio
Claro, Virgílio morou também em Bebedouro, Jaboticabal.e Assis, antes de se
estabelecer definitivamente em Campinas, em 1957.
Iniciou a prática do judô em Assis, com o professor Massao
Kodama, nos anos 50, e quando se mudou para Campinas, já portando a faixa
marrom, passou a treinar com o professor Motoyuki Murayama, porém observando a
diferença de nível técnico existente entre sua antiga escola e a nova,
solicitou voltar a faixa branca e recomeçar novamente o seu caminho no judô.
Em 1969, durante
as viagens que fazia por conta de sua profissão como representante técnico de
empresas de tratores, Virgílio estava em Uberaba, já portando novamente a faixa
marrom, quando em um randori com o professor Rikio Otokosawa, no Centro Oriente
de Judô, o professor Rikio decidiu promovê-lo. Pouco tempo depois, professor
Stanlei Virgílio recebeu o seu diploma e sua faixa preta shodan. Mas vale registrar que sua
promoção veio da terra do sol nascente. Professor Rikio havia solicitado sua
promoção ao Instituto Kodokan. Por respeito ao seu mestre, Motoyuki Murayama, Stanlei
nunca ostentou a faixa preta do Kodokan. Não demorou muito e sem saber dessa
história, Murayama também o promove à faixa preta. O diploma do Kodokan ele
guarda com todo cuidado até hoje. Esse fato ele conta em detalhes em seu livro
de memórias.
Em 1990, a Federação Paulista de Judô cria a
15ª Delegacia Regional da Grande Campinas e o professor Stanlei Virgílio assume
a delegacia por cinco anos, quando então, por ter sido empossado na Câmara
Municipal de Campinas, solicitou a sua saída, indicando Celso de Almeida Leite
para assumir o seu posto.
Sempre atento às
questões de política e atos cívicos, Virgílio oportunamente em seus discursos
em aberturas de eventos e também em sua academia, salienta a importância do
respeito à bandeira nacional. Hoje, professor Stanlei administra sua academia,
construída com muito capricho no quintal de sua residência. Conta com
aproximadamente cinquenta alunos de todas as faixas etárias. Lá, está sempre à
disposição para conversar sobre histórias e técnicas de judô, seus assuntos
preferidos, além dos seus projetos literários que cuida com afinco cada
detalhe, antes de chegar na parte final de editoração.
Livros publicados do mestre Stanlei Virgílio, seu grande legado.
Judô Campinas - História e Arte,
Judô - Golpes Extra Gokyo,
A Arte do Judô,
A Arte e o Ensino do Judô,
Conde Koma,
Defesa Pessoal,
Personagens e Histórias do Judô Brasileiro,
O Despertar da Mecanização Agrícola
- 1948/1969 e
Uma Vida (auto biografia).
Descanse em paz, sensei Stanlei.
Everton Monteiro
Homem íntegro, honesto, de uma sabedoria ímpar. Formou muitos meninos os tornando verdadeiros homens, preparados para a vida. Um pai para todos q participavam de suas aulas é um grande amigo para os pais, avós, tios e amigos q acompanhavam as aulas sentados nos bancos e cadeiras dá academia, sempre com um ótimo papo do nosso eterno sensei... Muita saudade
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