sábado, 27 de setembro de 2014

Convidado para o Desafio Brasil e Japão, mestre Massao Shinohara é um exemplo dessa relação


Um grande personagem da relação entre Brasil, Japão e judô é Massao Shinohara. O filho de imigrantes japoneses criado em Embu das Arte teve 74 dos seus quase 90 anos dedicados à nobre arte que começou a praticar quase sozinho. Com muita dedicação, se tornou mentor de grandes nomes da nobre arte no Brasil como o campeão olímpico Aurélio Miguel, o primeiro judoca nascido no Brasil a conquistar uma medalha olímpica, Luís Onmura, e de Carlos Honorato, vice-campeão olímpico em Sidney 2000. O sensei é um dos grandes nomes que foram convidados para acompanhar o Desafio Internacional Brasil e Japão neste domingo, 28 de setembro, a partir das 10 horas da manhã no Teatro Bradesco, em São Paulo.

“Eu comecei a fazer judô com 15 anos em 1940 mas na terceira aula o professor foi embora para o Japão para lutar na Guerra. Eu juntei umas 20 pessoas que faziam aula e perguntei quem queria continuar com o judô. Todo mundo queria. Então eu falei: vamos treinar junto”, contou Massao. “Com o passar do tempo, a gente começou a ir para outras para competir e sempre perdia. Todo mundo falou: “não quero ir mais”. Disse: “Por quê? Eu também estou perdendo, tem que continuar. Uma hora vamos começar a ganhar”.

E foi com esse espírito que ele continuou no judô mesmo diante de todas as dificuldades. Durante anos, trabalhava com um caminhão fazendo entregas a noite e de madrugada e dava aulas de judô durante o dia. A falta de dinheiro o fez pensar em parar. Mas uma pessoa, um “pai de aluno” como ele gosta de lembrar, o fez desistir da ideia.

“Ele disse pra mim: Shinohara, você só pode parar de dar aula quando morrer. Eu disse: Entendi. E ele morreu na minha frente”, contou emocionado. “O filho dele Jorge Tatsumi viu que eu precisava aumentar a academia e sugeriu que eu comprasse um novo terreno. Mas eu não tinha dinheiro. Então, ele sugeriu que eu vendesse 60 cotas e depois devolvesse o dinheiro. Ele mesmo fez as cotas e vendeu. Mas não tinha dinheiro para obra, então, eu mesmo levantei as paredes”, contou.

A gratidão é tão grande que no dojô da Associação de Judô Vila Sônia, inaugurada em 88, ao lado da imagem de Jigoro Kano, tem uma foto do Sr. Juntaro Tatsumi. Curiosamente, o ano de inauguração da academia foi o mesmo em que Aurélio Miguel, aluno de Shinohara, conquistou sua primeira medalha olímpica, e logo de ouro, em Seul, na Coreia do Sul. Ele relembra histórias curiosas com o ex-judoca meio-pesado.

“Plantava cenoura e cheguei, na frente dele, e arranquei uma e dei para ele: come isso aí que dá medalha. Ele comeu. Arranquei mais uma e saiu uma maior ainda. Disse: come que dá medalha de ouro. Ele acreditou e comeu. Foi brincadeira, mas ele pegou a medalha de ouro. Na hora em que ele competia, estava na casa do pai do Aurélio, vendo na televisão. Ele foi ganhando e chegou na final com o alemão (Marc Meiling). Falei para o pai dele: “tem que fazer força” e fiz “Agora”, mostrando a pegada de gola e manga. Ele fez o golpe e ficou em vantagem por um yuko. O pai do Aurélio falou: será que ele ouviu?”, contou o sensei já aos risos. “Ouvir não dá, mas o espírito sim”.

O homem que competiu – e bem – até os 57 anos, hoje lamenta a falta de mobilidade (por conta de uma queda faz uso de cadeira de rodas). Mas não deixa de lado seus alunos e nem sua característica como professor.

“Sou muito duro. A criança tem que ficar boazinha. Se não ficar, não pode fazer judô. Cobro que elas sentem da maneira correta, façam as saudações”, disse o mestre. “Com meu filho (Luiz Shinohara, técnico da seleção masculina) era muito mais rigoroso. Fazia ele treinar o dobro do que os outros meninos. Ele, as vezes, se trancava no banheiro e chorava. A mãe dele falava: “Já tá maltratando meu filho de novo?”. Mas eu não eu maltratava, queria que ele virasse um grande atleta. Deu certo, né!?”, orgulha-se.

Ainda hoje, veste seu quimono todos os dias e vai ao dojô. Gosta de trabalhar com as crianças e chama a cada uma pelo nome. Comanda todas as atividades, inclusive o aquecimento com muita desenvoltura. Uma mostra de que vai cumprir a promessa feita ao senhor Tatsumi anos atrás.

“Meu espírito é forte. Trabalhava na lavoura, dirigi caminhão dia e noite, e ainda tinha aulas de judô. Chegava a dormir no caminhão. Mas tudo valeu à pena.  Enquanto estiver vivo, não vou parar”, finaliza a lenda do judô brasileiro.

Um exemplo de vida.

Fotos: José Geraldo Azevedo/Globoesporte.com
Mosaico: Editoria de Arte Globoesporte.com 

Autor: Assessoria de Imprensa 

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