quinta-feira, 10 de setembro de 2015

JOÃO DERLY: 10 Anos de uma conquista histórica


O dia 10 de setembro de 2005 está marcado na história do judô brasileiro. Nesta data, na cidade do Cairo, no Egito, o judoca gaúcho João Derly fez história, tornando-se o primeiro brasileiro campeão mundial de judô. A vitória não poderia ser mais indiscutível: triunfo por ippon na final da categoria meio-leve (até 66kg) sobre o japonês Masato Uchishiba, campeão olímpico em Atenas um ano antes.

"A importância desta conquista está no marco de ter sido a primeira medalha do Brasil num Campeonato Mundial Sênior e em cima de um japonês recém-campeão olímpico. Eu estava lá, mas na hora é difícil se dar conta da grandiosidade do fato", relembra o presidente da CBJ, Paulo Wanderley Teixeira. "Inclusive, tínhamos perdido a candidatura deste Mundial para o Egito, o que fez dessa vitória ainda mais doce e uma espécie de revanche. Foi exatamente num período em que estávamos galgando os passos para chegar ao que somos hoje, referência no judô mundial. E esse resultado concluiu um processo, que já estava encaminhado, de acordo com o nosso primeiro patrocinador, a Infraero", ressalta.  
Foi o ápice de um dia glorioso. Depois de superar todos os adversários de forma arrasadora, o brasileiro, além de subir ao topo do pódio, levou o título de melhor atleta da competição. Um feito impressionante para alguém que trocara de categoria havia menos de dois anos.
“A medalha do João começou a se construir no Pan de Santo Domingo, em 2003, quando ele, ainda na categoria ligeiro, teve dificuldades para bater 60kg na pesagem. Essa dificuldade se refletiu na performance dele, que foi abaixo do esperado. Após os Jogos, nós, da comissão técnica, sugerimos a mudança de peso para o meio-leve (66kg). Na época, isso foi muito contestado, mas vimos o resultado dois anos depois, com o ouro no Mundial”, conta Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô.
Derly, a princípio, não se sentiu à vontade na nova categoria, principalmente por não conseguir a classificação para os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Porém, não esmoreceu.

"No primeiro momento, eu não gostei dessa troca. Ficar fora dos Jogos Olímpicos (de 2004) me deixou muito chateado, mas depois percebi que foi para o bem. Fiquei mais forte e não perdi a agilidade. E o mundial do Cairo foi a primeira grande competição que disputei nessa nova categoria”, lembra João Derly. “Na época, eu não tinha patrocínio, e a Sogipa (clube que defendeu ao longo da carreira) me dava uma bolsa para eu poder me dedicar exclusivamente ao judô. Por isso, essa medalha foi a coroação de um trabalho muito especial. Valeu a obstinação e o apoio do clube. O meu treinador, o Kiko (Antônio Carlos Pereira), também foi muito importante, principalmente pela motivação que ele me passava. Acredito que essa tenha sido uma das melhores épocas da minha vida", completa o judoca.
No caminho até a final, João Derly enfrentou adversários de peso. Na primeira luta, passou pelo australiano Andreas Mitterfellner. Na segunda fase, não tomou conhecimento do zambiano Ackson Mulemwa. Nas oitavas de final, a vitória veio sobre o experiente húngaro Miklós Ungvári, dono de três títulos europeus na categoria, além de três bronzes em Mundial e uma prata olímpica. Nas quartas de final, um confronto ainda mais complicado, com o cubano Yordanis Arencibia    , que vinha de um ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. O confronto da semifinal foi com o georgiano David Margoshvili. Mais um adversário derrotado e chegava a hora da final, contra o campeão olímpico Masato Uchishiba, do Japão. Era o maior desafio da carreira de João Derly até aquele momento.
"Eu estava bem preparado para o Mundial, vivendo um momento bom, sem lesões e não era tão estudado pelos adversários por ser novo na categoria. Já o Uchishiba era o atual campeão olímpico. Eu era a surpresa, né? Mas já havia derrotado ele em 2002 no ligeiro. Num período de treinamento na Espanha, no começo de 2005, ele nunca treinava comigo. Até que, num dos últimos dias, aceitou. E eu dei seis ippons seguidos nele. Então, ele pediu para treinarmos de novo e eu consegui mais ippons. O técnico da seleção me alertou que ele estava me estudando. Mas ali eu percebi que o meu jogo encaixava com o dele e eu tinha chance de vencer", descreve João, empolgado.

Derly entrou no tatame muito concentrado. Quando a luta começou, mostrou toda a sua garra e técnica, aplicando um koka. Logo em seguida, veio o ippon.
"Na área de treinamento, o Uchishiba estava cercado pelos principais atletas japoneses, dando instruções para ele. Eu pensei: ‘esse cara vai ficar nervoso na hora da luta.’ Eu estava tão concentrado, treinado e determinado que não dei nenhuma chance a ele. Com menos de um minuto já tinha vencido a luta", diz o ex-atleta.

Após muita comemoração e recepção com direito a desfile em Porto Alegre no carro do Corpo de Bombeiros, os frutos do título inédito surgiram imediatamente.

"Na volta para o Brasil, fechei dois patrocínios pessoais e um para o clube, que possibilitou que os atletas que treinavam comigo pudessem ter um salário. Isso foi fundamental para que eu alcançasse o bicampeonato mundial (em 2007, no Rio de Janeiro). Hoje, atletas de fora vão treinar em Porto Alegre. Ficou um legado", explica Derly, orgulhoso.

“Essa conquista do João é um marco para o judô brasileiro, da mesma forma que foi o ouro olímpico do Aurélio Miguel (em Seul-1988), pois foi o primeiro campeão mundial brasileiro, abrindo o caminho para outras conquistas”, diz Ney Wilson.

O Mundial seguinte, em 2007, foi realizado no Rio de Janeiro, assim como o Pan-Americano do mesmo ano. E Derly conquistou o lugar mais alto do pódio nas duas competições. Com a autoridade de quem tem um retrospecto tão positivo na Cidade Maravilhosa, o ex-atleta vê com otimismo as chances dos judocas brasileiros nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

"O fator casa ajuda bastante os nossos atletas. É só avaliar os Mundiais de 2007 e 2013 (realizados no Rio). Foram eventos em que o Brasil esteve muito bem. Para 2016, temos uma seleção feminina que é top no mundo, e uma masculina com grandes nomes. Temos a chance de ter a melhor classificação em Jogos Olímpicos em todos os tempos", aposta.

Após os dois títulos mundiais, Derly precisou enfrentar duas intervenções cirúrgicas que acabaram abreviando a carreira nos tatames. Sua última luta aconteceu em junho de 2012. Logo depois de se aposentar dos tatames, disputou as eleições para vereador em Porto Alegre. Elegeu-se como segundo mais votado. Em 2014, tornou-se deputado federal com mais de 100 mil votos.

"A saudade sempre existe, principalmente da adrenalina de competir. Mas essa luta no parlamento é muito importante, porque a gente trava um debate em busca de recursos e de investimentos para consolidar uma política para o esporte no país", conta o agora deputado federal pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Perfil:
Nome completo: João Derly de Oliveira Nunes Júnior
Nascimento: 2 de junho de 1981
Cidade natal: Porto Alegre (RS)
Clube: Sogipa-RS
Principais conquistas: Ouro nos Mundiais de 2005 e 2007 (Cairo e Rio de Janeiro), Ouro nos Jogos Pan-Americano de 2007 (Rio de Janeiro), Campeão Mundial Júnior em 2000 (Tunísia), ouro em três etapas do Grand Prix em 2002 (Leonding, Praga e Varsovia) e ouro na Super Copa do Mundo em 2006 (Paris)

Todos os medalhistas do Brasil em Mundiais:
Ouro
João Derly – 66 kg – Cairo (Egito)/2005
João Derly – 66 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2007
Tiago Camilo – 81 kg – Rio der Janeiro (Brasil)/2007
Luciano Corrêa – 100 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2007
Rafaela Silva – 57 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2013
Mayra Aguiar – 78 kg – Chelyabinsk (Rússia)/2014

Prata
Aurélio Miguel – 95 kg – Hamilton (Canadá)/1993
Aurélio Miguel – 95 kg – Paris (França)/1997
Mayra Aguiar – 78 kg – Tóquio (Japão)/2010
Leandro Guilheiro – 81 kg -Tóquio (Japão)/2010
Leandro Cunha – 66 kg – Tóquio (Japão)/2010
Leandro Cunha – 66 kg – Paris (França)/2011
Rafaela Silva – 57 kg – Paris (França)/2011
Érika Miranda – 52 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2013
Maria Suelen Altheman - + 78 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2013
Rafael Silva – + 100 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2013
Maria Suelen Altheman – + 78 kg - Chelyabinsk (Rússia)/2014

Bronze
Chiaki Ishii – 93 kg – Ludwigshafen (Alemanha)/1971
Walter Carmona – 86 kg – Paris (França)/1979
Aurélio Miguel – 95 kg – Essen (Alemanha)/1987
Rogério Sampaio – 73 kg – Hamilton (Canadá)/1993
Daniele Zangrando – 56 kg – Tóquio (Japão)/1995
Edinanci Silva – 72 kg – Paris (França)/1997
Fúlvio Myata – 60 kg – Paris (França)/1997
Sebastian Pereira – 73 kg – Birmingham (Inglaterra)/1999
Mario Sabino – 100 kg – Osaka (Japão)/2003
Edinanci Silva – 78 kg – Osaka (Japão)/2003
Carlos Honoraro – 90 kg – Osaka (Japão)/2003
Luciano Correa – 100 kg – Cairo (Egito)/2005
João Gabriel Schilittler – + de 100 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2007
Sarah Menezes – 48 kg – Tóquio (Japão)/2010
Sarah Menezes – 48 kg – Paris (França)/2011
Leandro Guilheiro – 81 kg – Paris (França)/2011
Mayra Aguiar – 78 kg – Paris (França)/2011
Sarah Menezes – 48 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2013
Mayra Aguiar – 78 kg – Rio de Janeiro (Brasil)/2013
Érika Miranda – 52 kg - Chelyabinsk (Rússia)/2014
Rafael Silva – + 100 kg - Chelyabinsk (Rússia)/2014
Érika Miranda – 52 kg – Astana (Kazaquistãi)/2015
Victor Penalber - 81kg - Astana (Kazaquistãi)/2015

*Reportagem publicada na edição de Abril de 2015 da Judô Em Revista, número 10.  

Por: Assessoria de Imprensa da CBJ

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