segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Menina cega supera deficiência, faz judô e sonha ser 'cientista de robôs'


Em meio a uma dúzia de garotos que praticam judô em uma academia no bairro dos Alemães, em Piracicaba (SP), a única menina da turma que treina nas noites de segunda e quarta-feira já se destaca naturalmente. No caso de Alice Yasmin Bune São Miguel, de 7 anos, o fato de ser cega contribui ainda mais para chamar a atenção dos que assistem às aulas, mas a desenvoltura da garota durante as atividades desfaz qualquer falsa impressão de que a deficiência a torne limitada para o esporte.

E o judô não é a única atividade dela, que tem a "agenda" mais cheia que muitos adultos. Alice estuda no Núcleo de Educação Infantil para Cegos e frequenta a Organização Não-Governamental (ONG) Avistar nos períodos da manhã e tarde. Seis dias por semana, a garota tem atividades e mãe e avó se revezam para dar conta de tantos compromissos. O pai não mora com Alice, mas também participa da maratona infantil.

Cheia de perguntas e expressões típicas da idade, Alice disse que vai se tornar uma "cientista que constrói robôs", mas enquanto a idade adulta não chega ela projeta uma forma de tornar-se "comerciante". Neste sábado (12), Dia das Crianças, ela ganhou uma máquina de brinquedo que faz sorvete de verdade e planeja comercializá-los. "Vou fazer e vender para as outras crianças, principalmente o meu favorito, de maracujá com cobertura de limão", explicou Alice.

Benefícios do esporte


Na aula de judô, Alice dá cambalhotas, aplica golpes e brinca com todos os colegas sem qualquer insegurança ou constrangimento. "Eu acho que fico mais receosa e insegura do que ela mesma", disse a mãe da menina, a pasteleira Érica Cristina Boscolo, de 29 anos.

A mãe contou que matriculou Alice na academia há um mês e meio por indicação de um amigo judoca, também deficiente visual. "Ela tinha muita dificuldade para dormir e acredito que seja por cansaço mental, e não físico. Depois do judô, que ela adora, passou a ter um sono mais tranquilo."

Durante as aulas, o professor Edinho Everaldo orienta os alunos a sempre estarem ao lado da garota e escolhe crianças mais graduadas para praticar os golpes até que ela ganhe intimidade com o esporte. Outra adaptação necessária é a explicação dos golpes: o mestre explica a todos demonstrando o movimento e depois descreve os detalhes em separado para a menina.

Deficiência

Alice sofreu retinopatia da prematuridade, doença que destruiu sua estrutura ocular em decorrência de ter nascido com apenas seis meses de gestação. "Eu descobri que ela não enxergava quatro meses depois do parto. Tive uma gravidez de risco e ela nasceu prematuramente. Na época foi difícil, mas tive acompanhamento psicológico e psiquiátrico e faço terapia até hoje", contou a mãe.

Érica disse fazer questão de manter a filha em constante movimentação. "Eu a levo ao cinema, a apresentações de dança e circo, já levei ao Salão de Humor desse ano. Em muitos lugares eu preciso ficar explicando para ela o que está acontecendo, mas hoje já há eventos com audiodescrição e no Salão, por exemplo, há obras em alto-relevo."

A mãe, no entanto, não acredita que a filha sofra com a deficiência visual. "Ela nunca sofreu preconceito por não enxergar, se locomove com a bengala e entende a condição. Ela sempre me diz que as mãos são como os olhos dela", contou a mãe.

Por: G1 - Globo.com

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